Soneto de Devoção
Vinicius de Moraes
Essa mulher que se arremessa, fria
E lúbrica aos meus braços, e nos seios
Me arrebata e me beija e balbucia
Versos, votos de amor e nomes feios.
Essa mulher, flor de melancolia
Que se ri dos meus pálidos receios
A única entre todas a quem dei
Os carinhos que nunca a outra daria.
Essa mulher que a cada amor proclama
A miséria e a grandeza de quem ama
E guarda a marca dos meus dentes nela.
Essa mulher é um mundo! — uma cadela
Talvez... — mas na moldura de uma cama
Nunca mulher nenhuma foi tão bela!
*********************************
Soneto de Indevoção
Herculano Alencar
Essa mulher que é fruto da desgraça,
Que se abateu, sem dó, por sobre mim,
E que me fez sofrer... até que enfim,
Me fez despir, do peito, a carapaça.
Essa mulher (meu porre de cachaça)
Me disparou três balas festim:
Uma acertou meu sonho de arlequim,
Duas atravessaram a vidraça...
E seguiram, às cegas, o destino.
Essa mulher (meu sonho de menino)
Tornou a minha vida um pesadelo.
Mas quando nua, deita-se ao meu lado,
Inventa uma desculpa pro pecado,
E um modo invulgar de cometê-lo.