Magro, de Olhos azuis, Carão Moreno
Manuel Maria de Barbosa du Bocage
Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;
Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;
Devoto incensador de mil deidades
(Digo, de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.
Moreno, estatura mediana
Heculano Alencar
Moreno, estatura mediana,
cabelos negros, olhos tom castanho;
parco talento, sonhos do tamanho
do canto sedutor da raça humana.
Roupagem de feição parnasiana,
à sombra do espelho de Narciso,
capaz de exaltar, se for preciso,
o orgulho vulgar que a mente ufana.
Poeta de elã mal definido,
que vive a procurar algum sentido
na arte da palavra, o dom da rima...
Eis Herculano, pura e simplesmente,
um bardo que esconde a dor que sente
na sombra dalgum verso que a exprima!