Magro, de Olhos azuis, Carão Moreno

Manuel Maria de Barbosa du Bocage

 

Magro, de olhos azuis, carão moreno,

Bem servido de pés, meão na altura,

Triste de facha, o mesmo de figura,

Nariz alto no meio, e não pequeno;

 

Incapaz de assistir num só terreno,

Mais propenso ao furor do que à ternura,

Bebendo em níveas mãos por taça escura

De zelos infernais letal veneno;

 

Devoto incensador de mil deidades

(Digo, de moças mil) num só momento,

E somente no altar amando os frades;

 

Eis Bocage, em quem luz algum talento;

Saíram dele mesmo estas verdades

Num dia em que se achou mais pachorrento.

 

 

Moreno, estatura mediana

Heculano Alencar

 

Moreno, estatura mediana,

cabelos negros, olhos tom castanho;

parco talento, sonhos do tamanho

do canto sedutor da raça humana.

 

Roupagem de feição parnasiana,

à sombra do espelho de Narciso,

capaz de exaltar, se for preciso,

o orgulho vulgar que a mente ufana.

 

Poeta de elã mal definido,

que vive a procurar algum sentido

na arte da palavra, o dom da rima...

 

Eis Herculano, pura e simplesmente,

um bardo que esconde a dor que sente

na sombra dalgum verso que a exprima!

Herculano Alencar
Enviado por Herculano Alencar em 15/11/2021
Código do texto: T7386016
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