Incesto

Noite vagabunda...

Eu sabia que não podia tocar-te, beijar-te e desejar-te na insanidade, deixar você possuir-me pelos seus encantos, por seres a outra do meu sangue, sangue derramado sobre aquela noite, causando maldição entre os lençóis enquebraquiçados, entre prazeres carnais, tudo parecia um fascinante desejar, entregar-se como se fosse o último dia, eu não podia, mas ainda assim o fiz e o meu corpo deu-se um voto por isso, o desejo era maior que a razão, perdi a consciência naquele tocar indecente, sentia magia em cada movimento, no teu passos lentos e rápidos que faziam-me delirar, até parece que o universo era para nós e os momentos entre puxões e arranhos, pensamentos vagos vagueando sobre a inocência daquele ser, o fruto dessa maldição que tem provocado dissolução... Ah! noite insana. 

Hoje, acarreto em minha consciência calejadas, peso e mais peso, cada dia que nasce o sol daquelas cavernas sonolentas, lentamente estou morrendo, lentamente pela maldição que afligi-me, confesso que não usei a consciência naquela noite, naquela cama, naquele quarto do quintal extenso, tenso desejar cegando-me, não era pra ser assim, dessa maneira tão cruel, o desejo, a vontade que morava em mim falava, gritava mais alto que a razão, o desejo era intenso, fazia-se sentir em nossos olhares cruciais. 

Precisava resistir a tais paixões e ilusões, mas não consegui, eram tão brilhantes e inspirantes que tirou tudo do sério, deixou de lado o lado parentesco e ativou o desejar mais louco. E lá naquele quintal, quarto e cama, tudo perdeu o tempo e só o momento queria valer, um momento único de prazer... sem perceber a errada fantasia que fazia efeitos.

E toda aquela confusão na mente, melhor, o desejo ardente querendo falar alto e o tão alto que perdeu a razão, a emoção falou mais intenso e tudo virou na entrega, eram puxões picotadas sobre os lençóis, entre aranhões projectados. E estava tudo errado, tudo errado e nada certo, e ainda assim tudo parecia fascínio.

E agora? Entre quatro paredes jaz uma vida tenebrosa, um fruto gerado no inverso, talvez bem dizer assim, até parece uma maldição, quebrou-se as regras da tradição e tudo desmoronou-se sobre a nossa cabeça. Ah! Quem dera voltar naquela noite, viajar no tempo e encontrar aquele dia, quem sabe mais forte usar a razão, olvidar a emoção e concertar o presente.

Quem dera!

E essa toda mácula parece que marcará dias e horas e o tempo todo, já que não dá para concertar o passado, quem sabe no presente e no futuro mais próximo, a gente tenha mais juízo. 

Sandro Sebastião e Branca Borges
Enviado por Sandro Sebastião em 27/08/2021
Código do texto: T7329965
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