Solitários-Augusto dos Anjos & Maria Thereza Neves
Solitário
Augusto dos Anjos
Como um fantasma que se refugia
Na solidão da natureza morta,
Por trás dos ermos túmulos, um dia,
Eu fui refugiar-me à tua porta!
Fazia frio e o frio que fazia
Não era esse que a carne nos conforta
Cortava assim como em carniçaria
O aço das facas incisivas corta!
Mas tu não vieste ver minha Desgraça!
E eu saí, como quem tudo repele,
- Velho caixão a carregar destroços -
Levando apenas na tumbas carcaça
O pergaminho singular da pele
E o chocalho fatídico dos ossos!
&
Solitária
Maria Thereza Neves
Um medo que alucina , dói ,
Refúgio das sombras e fantasias,
De quem sofre e a alma corrói ,
No fechar das portas da poesia.
O inverno, eterno é o inverno,
Fazendo negro, sem luz os dias.
As noites em chamas ,um inferno,
E o poeta sem versos,sem moradia.
Destroços do eu sem vôo,sem asas
Ascos e revoltas tantas, tantas ,
Nas percorridas vidas tontas.
E vou morrendo pouco a pouco,
Levando de mim o nada vezes nada,
Quando tudo ainda se faz vazio, oco.
26/10/07
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