ESCRAVIDÃO E ABOLIÇÃO NO BRASIL
Raça negra sofrida, apartada de sua nação
trazia no peito o martírio da saudade sem alívio,
confessada em gritos e prantos até em oração,
um verdadeiro castigo, sem da família o convívio.
Porões de navios negreiros com cenário abissal
muitos morriam de banzo, fome ou maus-tratos
incontáveis eram vendidos para trabalho braçal
triste sina de açoites e outros impiedosos atos.
Rebelião era fato, na luta contra dor e reclusão...
os dias eram tormentos, nas noites grandes lamentos;
olhares lânguidos suplicavam autonomia e proteção,
mas senhores de engenho só lhes traziam sofrimentos.
Benditas pessoas abraçaram essa grave causa...
tendo como símbolo uma singela camélia branca, (*)
o movimento abolicionista fortaleceu-se sem pausa
a sociedade em defesa da extinção dessa prática.
Longo foi o caminho para a abolição da escravatura,
mas a luta foi vitoriosa com a lei Áurea sancionada,
num ato de nobreza, princesa Isabel pôs fim à desventura
libertando um povo subjugado para uma vida imaculada.
(Verdana Verdannis)
Angustiada uma mãe lá na senzala
lastima em noite baça e tenebrosa
o filho vendido, enquanto – receosa
outra cativa a sua criança embala.
Paz não encontra a crioula adolescente
cobiçada pelo dono de seu corpo:
quem não cede à libido desse porco
castigada é por ele duramente.
Já cansados estão os negros da chibata,
os arbítrios dos brancos sem piedade
e recusam essa insana propriedade
embrenhando-se em quilombos bem na mata.
Mas aos poucos vai crescendo a resistência
e são lidos os poemas do profeta
Castro Alves, queridíssimo poeta,
que em seus versos censura a prepotência.
Todo o povo aclama agora a abolição
e o ato nobre da Maçonaria (**)
que comprando cem mil cartas de alforria
antecipa o fim dessa opressão.
Sinto muito, vaidosa sinhazinha,
se ninguém vai alisar seu penteado:
negro algum será mais chicoteado,
e a sua escrava – agora - é a sua vizinha!
(Richard Foxe)
(*) Nos grandes centros do país, a camélia branca tornou-se um símbolo de adesão ao abolicionismo. As pessoas que cultivavam a flor em suas casas, ou ainda todos que portavam um broche de camélia branca na roupa revelavam total apoio ao abolicionismo.
(**) Era uma prática comum o empenho da Maçonaria, junto à libertação de escravos através da compra de alforrias; o número exato não é conhecido e cem mil é uma licença poética.