TORTURA-Florbela Espanca & Maria Thereza Neves

TORTURA

Florbela Espanca

Tirar dentro do peito a Emoção,

A lúcida Verdade, o Sentimento!

-- E ser, depois de vir do coração,

Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,

E puro como um ritmo de oração!

-- E ser, depois de vir do coração,

O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:

Rimas perdidas, vendavais dispersos,

Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,

O verso altivo e forte, estranho e duro,

Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

&

TORTURA

Maria Thereza Neves

É arrancar tudo tão de dentro ,

É doce, é quase uma tortura ,

Deixar extravasar do meu centro ,

As emoções vividas, uma loucura.

É se permitir intensamente viver,

Mesmo que o momento doa ,

Me faça pouco a pouco morrer

Nos tons que a melodia voa .

As vezes tudo se faz oco, vazio,

Os versos sem qualquer sentido

Sem retorno, sonhos ou paraíso.

Mesmo que sangre não desisto de tentar

Uma poesia suave ou com palavras duras ,

Jamais negando meus gritos sem ar.

20/10/07-22h

Maria Thereza Neves
Enviado por Maria Thereza Neves em 21/10/2007
Código do texto: T703019