BARQUINHO DE PAPEL
Sei que tenho poucos anos,
Mas já posso viajar,
Eu vou cruzar oceanos,
Com meu barco a velejar.
Já com o dia clareando,
Me despeço, deixo o cais,
Com Ritinha me acenando...
- Tchau marujo, até mais.
- Não fique triste Ritinha,
Que eu volto pra te buscar,
Você vai ser a rainha,
Da ilha que eu vou achar.
- Não te esquece marinheiro,
Por você vou esperar.
E vê se volta ligeiro,
Assim que a ilha encontrar!
- Eu te prometo Ritinha,
Que não me esquecerei.
Seremos rei e rainha...
Tchau! Logo eu voltarei.
Sou marinheiro audaz,
No imenso mar navegando,
Meu barco vai velejando,
Deixando as ondas pra trás.
Estou feliz, bem contente,
Golfinhos me acompanhando,
Grandes baleias saltando,
Cantando alegremente.
Olha só... é uma sereia! ...
Stá me fazendo sinais...
Como ela é linda... faceira! ...
Mas Ritinha é muito mais!
Mas, que vejo no horizonte?
Com a luneta vou olhar...
Terra à vista! É um monte,
Que eu acabo de avistar!
- Pedrinho... sai da banheira!
Se enxuga, vai se arrumar!
Já chega de brincadeira,
Está na hora do jantar.
- Oh mãezinha, logo agora,
Que a ilha acabei de achar...
Já estou indo sem demora,
Deixa o meu barco ancorar.
Volto logo amiguinho,
Não vou te deixar ao léu,
Fica aqui bem guardadinho,
Meu barquinho de papel.
(Francisco de Assis Góis)
MEUS OITO ANOS
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
De despontar da existência!
– Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é – lago sereno,
O céu – um manto azulado,
O mundo – um sonho dourado,
A vida – um hino d’amor!
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d´estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberto o peito,
– Pés descalços, braços nus –
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar!
[…]
Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
– Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
(Casimiro de Abreu)
Ouça a declamação na página de áudio abaixo:
https://www.recantodasletras.com.br/audios/poesias/89727