Fuga Imaginaria (2013)
Margô: Vamos fugir?
Insípido: Para onde?
Margô: Qualquer lugar longe daqui!
Insípido: Vamos Sim!
Margô: Um lugar onde haja amor permanente pra dar inspiração eterna pra nossos escritos.
Insípido: Não só amor, né?
Margô: Tudo o que for necessário.
Insípido: Um pouco de dor?
Margô: Sem ela não há plenitude; dor aos quilos pra usarmos na cota certa.
Insípido: Então vamos, somente nós dois? Ou outros doloridos também vão?
Margô: Quem quiser ir com a gente.
Insípido: Quando vamos!
Margô: Na hora que a loucura bater na porta.
Insípido: Vamos agora?
Margô: Vamos. Fecha os olhos e se concentra. O paraíso particular vai se materializar.
Insípido: Estou fazendo isso.
Margô: Também estou.
(Silêncio)
Margô: É bom um paraíso de palavras comestíveis e dor palpável.
Insípido: É, muito bom. Pela primeira vez posso saber qual o formato das minhas dores.
Margô: Pode moldá-las como bem entender, depois...
Insípido: Não adianta, elas sempre me fogem. É sempre assim.
Margô: Uma hora elas ficam.
Insípido: É, uma hora eles sempre ficam.
Margô: Tudo corre, mas tem a hora do cansaço. Temos que aprender a vencer pelo cansaço; não pelo nosso, pelo cansaço do adversário.
Insípido: Quem é o adversário?
Margô: O medo, a dor, as frustrações.
Insípido: Ou nós mesmos.
Margô: Isso é quando a gente puder se ver no espelho do nosso refúgio. Ainda não estamos nessa etapa.
Insípido: E quando estaremos? Pois no espelho que já vejo meu inimigo.
Margô: Calma, um passo de cada vez.
Insípido: Não sempre, mas as vezes.
Margô: Hoje tu viu teu refúgio [nosso]. Amanhã alguma coisa; a cura é um processo lento senão se chamaria milagre; ressuscitar mortos não é normal. A gente cuida do que ainda dá pra cuidar.