Hily & (*): Desgastada I
Hily: — Boa noite!
(*) —Agora? Mas é Domingo às 19h06.
Hily: —Compreendi! Porém necessito expressar-me.
(*): — É tudo tão confuso Hily...
Hily: — Pra quem? Permita-me?
Escutai-me sem interromper. Mas se puderes, conecta-te neste diálogo. Se tens algo a ser exteorizado, fales a verdade. Apenas escute essa voz interior que lhe fala, primeiramente.
(*): (Permanece em silêncio)
Hily: —De fato, longos anos se passaram! Tão veloz...
(*): —Sem que pudesse de fato vivê-los!
Hily: —Passaram diante de mim e não de ti.
(*): —Sinto-me anestesiada, mas, sobretudo chocada!
Hily: — Na vastidão de possibilidades, escolhi ser isto e não aquilo.
(*): —Decidiu este em detrimento de outro.
Hily: —Mas, entendi que nem um ou outro...
(*): —Nem este ou aquele?
Hily: —Tampouco o que escolhi!
(*): —Não obteve significância como algo que lhe fosse vital?
Hily: —Pisei em folhas secas e senti ventanias ásperas.
(*): —Olhei jardins decaídos em que as flores estavam murchas e descoloridas.
Hily: —Avistei semblantes mortos que se arrastavam pelas ruas.
(*): —Conversei com seres de gesso, mas eles não eram capazes de ouvir-me.
Hily: —Perpassei por caminhos tomados de espinhos, todos adentraram em mim.
(*): —Nada dissestes! Guardastes interiormente.
Silêncio...
Hily: —Carreguei peso dos outros junto dos meus.
(*) Suportastes!
Hily: —Ofereci tesouros que foram jogados aos ventos!
(*): Oh! Inutilidade do ser.
Hily: —Semeei, reguei e contemplei as flores crescerem!
Arrancaram-me todas dos vasos que dediquei anos construindo!
(*): —Você esvaziou-se do que amava profundamente!
Hily: —Retirei-me de vários lugares e adentrei em outros.
(*):— Tudo tornou a se repetir.... (engolindo seco).
(Hily): Permanece em silêncio...
(*): Silenciou.
Ah se soubessem o quão é primoroso o silenciar... difundir-se-ia a paz no interior do ser! Tão profundamente que iria dispor-lhe o refletir sobre toda a vida vivida: terá sido intensa ou superficial?
Continua...