Dueto atrevido e não autorizado com Mia Couto
Para ti (Poema de Mia Couto)
Obs.: Se o leitor não conhece o poema, uma forma interessante de ler este dueto é ler (e se encantar com) o original do grande Mia Couto e depois (ser muito indulgente com) a pretensiosa interação dessa desvairada e atrevida pessoa...
Foi para ti que desfolhei a chuva
para ti soltei o perfume da terra
toquei no nada
e para ti foi tudo (Mia Couto)
De olhos fechados recebi a chuva fina
que cobriu minha pele nua...
o cheiro da terra entranhado em meus cabelos,
delicado ritual de amor que me tornou em tudo
quando sem ti, amor, eu era o nada.
Para ti criei todas as palavras
e todas me faltaram
no minuto em que talhei
o sabor do sempre (Mia Couto)
O redemoinho que correu nos campos
embaralhou todas as palavras
que soltaste no vento arfante:
no silêncio que se fez
tudo fez todo o sentido.
Para ti dei voz
às minhas mãos
abri os gomos do tempo
assaltei o mundo
e pensei que tudo estava em nós
nesse doce engano
de tudo sermos donos
sem nada termos
simplesmente porque era de noite
e não dormíamos
eu descia em teu peito
para me procurar
e antes que a escuridão
nos cingisse a cintura
ficávamos nos olhos
vivendo de um só olhar
amando de uma só vida (Mia Couto)
Tudo estava em nós, na imaterialidade do tempo
quando suas mãos tomaram para si toda a minha entrega
e te encontraste, inteiro e íntegro em todas as partes de mim...
Respiração uníssona na escuridão da noite infinda
que teimamos em viver assim,
sem tréguas, sem rédeas, sem fim.
Para ti eu vivo, minha vida.
Para ti.