VERSOS ÍNTIMOS -Augusto dos Anjos /Maria Thereza Neves

VERSOS ÍNTIMOS

Augusto dos Anjos

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável

Enterro de tua última quimera.

Sómente a Ingratidão - esta pantera -

Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!

O Homem, que, nesta terra miserável,

Mora, entre feras, sente inevitável

Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!

O beijo, amigo, é a véspera do escarro,

A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,

Apedreja essa mão vil que te afaga,

Escarra nessa boca que te beija!

&

VERSOS ÍNTIMOS

Maria Thereza Neves

Ninguém me avisou, prantos derramou ,

Quando meu sonho sangrou , disse adeus.

Nem minha sombra ajoelhou, rezou , apiedou.

No peito recordações , poeiras e camafeus.

Crucificada nas gargalhadas das teias ,

Miserável, em agonia sou fera ferida ,

A jorrar vermelhas, negras idéias das veias,

Definhando nos restos desta maldita vida!

Escarro as entranhas , rasgo-me lama,

Parto a rastejar sem amigos deixar

Ou pedras lançar deste esgoto sem alma.

Saia deste coração que um dia amou,

Deixe o corpo respirar no verso, relaxar ,

No ultimo beijo que em mim restou.

18/09/07-14h

Maria Thereza Neves
Enviado por Maria Thereza Neves em 19/09/2007
Código do texto: T658660