Ao Passar da Procissão
"Não chorem! que não morreu!"
(Álvares de Azevedo)
Seguia a turba vil, maldosa,
Rumando à campa em triste adeus;
Que face maga, pura, airosa…
- Eu vi, amada! os restos teus!
Teus olhos eram mortos lírios,
Fechados para a eternidade;
Guardavam quietos os martírios,
Prantos de tua mocidade.
A boca era um pássaro meigo
Ao frio do inverno, assaz tremente;
E qualquer ser que fosse um leigo,
Diria: — A morta está vivente!
Por entre as mãos, de tom perfeito,
Tu carregavas tão calada
O teu rosário contra o peito,
Qual se rezasses devotada.
Teus pés estavam tão brilhosos,
Ornamentados por mil cores;
Que o sangue a te brotar dos ossos
Mais pareciam lindas flores.
Por trás daquele olhar absorto,
Que outrora o céu resplandecia,
Teu coração — no corpo morto —
Dava-se a arfar que inda vivia.
Estavas fria, mas sangravas,
Pois vi-te os poros à corar,
Como uma estátua; não falavas,
Somente a lágrima a jorrar.
E assim a turba prosseguia,
A acompanhar a atra carruagem;
Beirando a estrada tão sombria,
Aos trancos da última viagem.
Entre 30 e 1 de Dezembro de 2012
1ª, 3ª, 5ª e 7ª estrofes - Nestório da Santa Cruz
2ª, 4ª, 6ª e 8ª estrofes - Derek Castro