É tarde! É muito tarde!

A noite recortada por estrelas

Fulgia enamorada pela lua.

E perto, confundida co'as falenas,

Havia uma donzela, bela e nua.

Deitada, sobre um manto azul, florido,

A pobre parecia falecida;

A boca sussurrava um ai dorido,

Como a dizer — adeus, amor! oh, vida!

A flor que lhe beijava a face bela,

Colhia de seus olhos triste orvalho.

Prostrada, como a santa na capela,

Nem via que a tocava o seco galho.

Seu corpo já sem luz, sem cor, sem alma

Mantinha a castidade da inocência,

Nem mesmo o verme frio perdeu a calma...

A virgem lhe inspirava complacência.

Ela lembrava um lírio desfraldado…

Um anjo que caiu do céu, ferido…

O verso de um poeta consternado…

Um passarinho meigo mas jazido…

Tinha nos olhos úmidos um brilho

Que a lua nunca deu a mais ninguém,

Mas no semblante lúgubre um chorrilho

De mágoas que de tudo estava além.

Era a mais triste, a mais amargurada!

Tudo se contristava, em torno dela.

Jazia ali sozinha, desolada,

A se morrer aos poucos, qual uma vela.

Então me aproximei daquele anjinho,

Que logo, num esforço derradeiro,

Antes de falecer soprou baixinho

— O amor morreu com ele, no madeiro…

1º a 4º estrofe — Nestório da Santa Cruz

5º a 8º estrofe — Alysson Rosa

25/26 de Novembro de 2012

Alysson Rosa e Nestório da Santa Cruz (Rafael Dalle)
Enviado por A Lira em 02/12/2018
Código do texto: T6517140
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