Às Perdas Que Ficam
No que reitero
Não mudei.
São outras mãos.
Outros olhos.
Outra boca.
São outras roupas
Penduradas na varanda.
Outras marcas deixadas ao chão.
Outros lençóis
Cama, fronhas, almofadas.
Mas não mudei.
(Eu)
Mudaste mesmo sem perceber
Por mais que não se deste conta
Outras mãos, outra boca, outro querer
São mudanças que em ti desponta
E as roupas na varanda penduradas
Exalam um perfume diferente agora
As lembranças de antigas madrugadas
Adormecem com os sonhos de outrora.
(Ela)
Permaneço sendo tudo que fui
Desde os tempos
De criança.
Onde meus amores eram
Decididos sob as pétalas
De bem-me-quer
E mal-me-quer.
Permaneço sentindo tudo que sempre senti.
Desejando tudo que no fundo desejei
Por mais simples
Que às vezes pudesse parecer.
(Eu)
Pois mudando dia a dia aprendi
Que a vida é toda feita de escolhas
Há amores que já tive e perdi
Mas há sempre o virar das folhas
E nesses versos que eu hoje escrevi
Com tristeza, alegria e esperança
Trago vivo aquele amor dentro de mim
É o mesmo desde os tempos de criança.
(Ela)
Mas quando olho-me no espelho
É irreconhecível a face.
Então procuro-me em tudo aquilo
Que nunca perdi.
E encontro-me
Perdido em antigas cicatrizes
Choradas por outra boca.
Olhadas
Por outros olhos.
Cuidadas
Por outras mãos.
E abandonadas
Pelos passos já apagados
De outros dias vãos.
No que reluto e não nego
Eu mudei...
(Eu)
A gente muda mesmo sem perceber
Há outro rosto agora diante do espelho
Isso faz parte do crescer
Mudamos ainda que tenhamos medo
Mas ainda com a esperança
De mantemos em algum lugar esquecido
Dentro de nós aquela mesma criança
Viva! Dentro de quem temos sido.
(Ela)