ESCONDERIJO

Minha memória sem glória,

Me atravessa na história,
Se faz confortável fronde,

Me sustenta, me esconde,
Dos contratempos do tempo,
Das agulhadas da fome,

Das impávidas correntezas,
Dos momentos de estranhezas,
Que o intelecto contém,

Que vem de longe do ontem,
Martírio, atro sem nome,

Substantivo, adjetivo sem pronome.

Mas, aqui, no quarto escuro,
Estou protegida do medo,
Do passado, do futuro,
E de eventuais segredos,
Que venham alterar meu presente.


Aqui, nesse retiro,
O quarto é minha moldura,
Nele, me sinto segura,
Ninguém ouve os meus suspiros,
Vê o meu olhar reticente...


Sou apenas sobrevivente,
Fujo de tudo – absurdo,
Fujo de ti e de mim.


Covardia...? Talvez,
Mas, quem sabe da gente, é a gente,
Presentemente a fuga tem vez.


Profecia não cicia,
Me sinto melhor assim.


Uma engavetada poesia,
Alheia à luz do sol no jardim.


HLuna
Deley