SORTILÉGIO

é preciso sair um pouco

deixar a toca

ir à rua

deixar que ela veja a zona

os bordéis

em dia santo

é preciso deixar a toca

ir às igrejas

com seus pequenos pecados

é preciso ir às compras

à praça pública

ao coreto

à favela

à Torre Eiffel

às favas

às vezes

à luz

à força

à multidão

à distância

a sangue frio

à sombra

à volta

para que eu consiga

me acertar

eu que sou tão poucos

que se Lhe torna difícil a mira

e o acerto

à noite

é preciso que Deus me veja

mas é preciso que eu saia

à noite

é preciso que Deus me entenda

pois sou uma invenção

à venda

é preciso acabar com o hiato

entre minha ilusão e meu fato

seria bom se alguém fosse comigo

mas só é preciso

que esteja bem aqui o meu umbigo

é preciso que eu esteja alerta

mas é tão difícil com este espartilho

que já não me aperta...

MARCELO MORAES CAETANO, in MACHOS ALFABETIZADOS