Amizade Mortal
Ah, Morte
Essa tua amizade não me faz tão bem
As sequelas são uma confusão intermitente
Que não sei se te prefiro longe ou perto
Ah, Dama do Coração Negro
Tua presença maculada de pessimismo me fascina
E foi tua própria mente já nada esperançosa que me invocou
Mesmo que me abomines, admita que nos trazemos consolo mútuo
Quem és tu para mendigar consolo?
Já não basta o sadismo diário
Agora queres bancar a hipócrita
E pedir que te salvem?
Em meu beijo frio há mais que sadismo
Há um mistério que te atrai para além da mediocridade
Meu carinho é incondicional, mas seu preço é cruel
E estou ciente há milênios que estou muito além de salvação ou bondade
Nunca procurei por teus beijos
De fato és fria e teus carinhos, incapazes de aquecer
Meu engano está em acreditar que, por me rodeares,
De alguma forma me queres e te importas comigo
Talvez nas obtusas fronteiras de nosso laço não caiba empatia
Mas, se te desgostasse, já estarias caída no chão, sem vida
Continua entretendo-me com teus enigmas
E talvez possas contemplar o nascer do sol por mais um dia
Desculpe, Morte
Mas tudo que podes fazer com minha vida é tirá-la de mim
E não farei de meus dias meras distrações
Para alguém que jamais entenderá a beleza do nascer do sol
E este já não me interessa mais
Estou pronta para partir, mas já não tenho medo de ficar
Poderíamos ter sido amigas
Mas usaste as sementes erradas
E tudo que tens a colher de mim é indiferença
Ingênua Dama do Coração Negro
O que sabes sobre o verdadeiro partir são meras conjecturas
Não posso te surpreender
Sou feita de negro, não conheço o branco
E estou certa que não saberia lidar com os tons de cinza
Você me fascinou em seu mundo, admito
Mas sua arrogância mortal me cansou
E quero agora descobrir o que pensarás do meu