Andre Anlub e Rogério Camargo 202
Chuva que cai e cai e cai, lavando pés e cabelos.
Em velocidade extrema, na hora do lanche enxágua algumas almas horrendas.
Não escolhe, não discrimina, vai encharcando quando pode enquanto pode.
Não sacode, não estagna, é emotiva e cai dia sim ou dia não conforme o clima.
Não se importa de marcarem horário antes ou depois dela. Na verdade, nem sabe o que é “horário”. Para ela, só existe um, o de chover.
Com os pés limpos e a cabeça raspada aguardo sua queda embraveada para limpar agora minha aura simplória.
Com a glória do anonimato, amplo sucesso no recesso de minha obscuridade, vou a ela para que venha a mim.
Água verdadeiramente benta, expurga a pulga que insiste em morar atrás da minha orelha.
Vai me esperar na esquina, no seco, não quer se afogar. Depois conversamos. Talvez eu lhe fale na chuva, uma chuva que cai e cai e cai, lavando pés, cabelos e auras.
Rogério Camargo e André Anlub
(14/7/15)