André Anlub e Rogério Camargo 195
Quisera eu permear pelo pomar da sua casa, pelas entranhas da sua casta, pelo castanho do seu olhar.
Também era bom se eu quisera algo mais realizável. Me frustraria menos.
Sou um rebuscado buscando barcos naufragados em mares irreais; anfitrião de sonhos e feirante de frutas cítricas celestiais.
Sonhar e perseguir o sonho. Ação e reação. Quase condenação. Nunca o passo atrás para tomar distância e enxergar melhor.
Enxerga melhor quem se enxerga primeiro. É só o início da conversa a sola dos pés até o último fio de cabelo.
E quando quem se enxerga primeiro também se enxerga antes – de agir, de reagir, de reagir à reação –, o castanho de todos os olhares brilha.
A camuflagem da noite confessa que há frustração também quando nada lhe frustra, nada se arrisca e nada se vive.
Covardia não é prudência. A prudência sabe o que está fazendo, a covardia não.
A exposição do dia confessa que não há frustração quando se aceita do jeito que é, se mostra com orgulho e não há embaraço no amanhecer.
Então, enquanto permeio o pomar da tua casa, enquanto vagueio pelas entranhas da tua casta, enquanto sou quem não deveria ser, me aceito sendo.
Rogério Camargo e André Anlub
(4/7/15)