Dueto III - Uma Ode Ao Amor-
-Concebendo o tempo-
Olho ao meu redor... Tantas flores morreram e tantas nasceram...
Olho a lua... Não findou sua valsa espelhada nos oceanos
Os dias continuam passando, o tempo não é contido pelos ponteiros quebrado de um relógio...
O tempo segue, posso calar meu verso, mas não posso impedir o universo...
A noiva azul rodopia cheia de graça seduzindo a luz do sol, e na opera da criação, onde incontáveis estrelas refulgiam na partitura do espaço a canção, não há tempo para esperas!
O tempo corre e discorre... Por isso a pressa é um erro e esperar demais é desacerto.
- Salaam e Ishq (Saudação ao amor)-
-Ah! Meu coração. Palpita ao sentir cada raio de sol que se faz amanhecer o dia e como uma leve vertigem me assopra a barriga, onde me perdi entre seus raios de sol e calmaria. Segui em passos determinados pela estrada, com um sorriso no rosto e a saudade nos braços. Segui livre pelas arvores e sem descontinuo, brindei alto a manhã e a relva de meus pensamentos.
Ah! Meu coração. Por que suplicas aquela vista, por que palpitas em alegria em cada raio de Atom pela manhã? É o amor.
Ah!O amor, desejo e rastejante ultraje, me vistam com vestes de alegria e mergulhei na tempestade de sua poesia.
-A Aceitação-
Era eu uma pena e um tinteiro e do mundo inteiro tive que me afastar
Era eu um poema profundo e para me ler tive que me ausentar.
Um fragmento perdido deitado no segredo cósmico de meu existir
desistir não foi opção e eu não abandonei a embarcação
apenas fiz dela esconderijo, guardei meus gritos e cantei silêncio e solidão...
Poeta forjado no magma escaldante de suas paixões
Derivado maldito de incontáveis explosões...
Parte de mim dorme no barco de sonhos cujas velas são sopradas por ventos de ilusão
outra parte é vendaval que se fez destino, um desesperado furacão em fuga contendo seu desatino.
Ser tudo e nada dizer... Ser absoluto e mesmo assim em mil pedaços se desfazer
gotas de verdade forjando o idílico espírito e engazopando seu eu lírico para livre ventar...
Sigo na imensidão do oceano, sendo eu o amador e meu próprio amar...
E meu amor sabe o que é vento e tempestade, dança no fogo e não teme se queimar
E meu amor sabe me amar, poderoso amor capaz de me destronar
Meu amor é a estrela, luz de muitos mundos, um silencioso quasar capaz de construir e desintegrar...
Não é difícil me confundir nas anáguas de seu existir
Não é difícil me perder no zênite de seu olhar...
E eu... Que cheio de honestidade posso embair ao mundo meus caminhos
esqueço-me de quem sou; para o que sou e porque sou, quando no meu amor me aninho!
Ciclos e mais ciclos dançando em rodamoinho, e já não importa a senda do presente passado...
Não importa se sou porta, chave, cadeado, ou o bem maior de quem bate do outro lado... Importa que sou inteiro quando ao meu amor me vejo misturado!
- Dia e Noite -
-Eu observava em volta, os altares e as imagens, e me perguntava em que mundo eu me perdi? As imagens que eu mais admirava eram os das mulheres e suas coroas de rosas, eu sonhava com uma vassoura e sua capa preta todas as manhãs.
Por que é pecado sonhar? Por que é pecado ser assim?
Nasci com uma fogueira em meu coração, e por muito tempo fui perseguida e reeducada como tal eu deveria pertencer. A prisão me amotinava a cada dia, e da luz da lua me perdi em pensamentos de verão. O som da chuva disfarçava os gritos de meus pensamentos, e entre tardes e noites me escondia entre as sombras para pensar e repensar.
Por que essa grande fome pela vida? Por que essa dor me aperta o peito ao ver as imagens de mulheres livres de muitos tempos atrás?Por que é pecado ser quem é? Ser forte e mulher, mostrar ao mundo o seu coração doce, enquanto a terra se desfaz em guerras.
E ali encontrei o meu refúgio, nas palavras do poeta das sombras, onde suas poesias se impregnaram em meu corpo e mente. Por muitas vezes me perdia em seus versos pela falta de prática de minha escrita, mas ainda sim estava lá, uma eterna expectadora de sua obra. Fascinada como Lisbela em seus sonhos de mocinho e mocinha e assim ele fez nascer de mim como um amante das escritas, sugar de mim as primeiras poesias de minha alma. Busquei a partir dali encontrar o sentido de minha vida e busquei entre os versos o amor perdido de minhas várias faces.
Encontrei a face de narciso a observar sua contemplação nas águas que seguiam firmes ao grande mar da poesia, me surpreendi com seu fascínio e descobri que tudo que observava era da minha duplicata, uma alma dividida em duas, um amor tão grande que deseja se fundir novamente, lutando para existir entre os tempos. Uma poesia dividida em dois, como o dia que divide em duas faces, o eterno equilíbrio da fome e da saciação. Um dá lugar ao outro, cada qual em seu tempo, e assim faço minha poesia, em resposta a ele.
- Estranhos Caminhos-
A vida era cheia de tão vazia... Luz alguma iluminava, bebida nenhuma embriagava
não houve amor que saciava... Somente em letras e saudade me via metade aliviada!
Era o peso do mundo, o som do absurdo que minha garganta apertava e me fazia mudo...
Lancei-me no mistério de se descobrir e encontrei um mundo encantado que animou a poesia do meu passado... E por que não? Aventurei-me, pois por uma sereia fui hipnotizado.
Amava nas fulguras da noite e no dia nauseabundo pela maresia me via afogado!
Desgraçado amor que entorpecia, trouxe das profundezas do mar todo o narcótico de minha poesia... Viciado em um espetáculo de verdades trajando mentiras me embriaguei com o vinho estragado e uma paixão que me fazia sentir violado!
Eu estava no palco encenando tragédia com uma flor venenosa do Caribe
E na plateia olhos inocentes emocionavam-se com a dor e o ardor de minha pena maldita...
pena que rasgava o pergaminho com a força magoada de meu furor e apenas os olhos da menina via o sangue sendo a tinta dos meus escritos... E como sonho tímido ela me desenhou em letras... Reaprendeu a pintura do artista poeta, que com frases e alma pinta telas!
E a menina virou mulher e verteu calmaria na fantasia, furtou-me dela, pois habitava na plateia e quando eu era cortina que se fechava, sozinha ela seguia para a vida...
Morreu a flor pervertida, seu rum secou e de mim, como lembrança, só uma garrafa vazia restou!
Morreu a sereia, uma ninfa inescrupulosa, e eu verti ainda despercebido, para fora de seu mar...
Ela desprendeu-me da fantasia, pois na vida de cores nítidas ela era a musa da minha poesia, quieta a me esperar em uma curva de minha estranha via!
Foi no caminho aonde piratas bêbados se conduziam no sonho bonachão de tantos meninos que eu descobri a deusa menina, o vinho puro que eu desconhecia, cheia de poesia que não embebedava e cheia de amor... Passada a noite de nosso fulgor somente a paz é louvada, o dia nasce belo e os pássaros cantam em honra de um amor brejeiro e sem ressaca!
- Realeza revestida de mentiras-
-Mergulhei por mares não mapeados, e fui rodeada pelas mais nobres criaturas que poderiam surgir em minha curta vida de pirata. Em seus dilemas me encontrei, e percebi que eu não estava nesse mundo sozinha. A amizade ali brotava como flor no meio do deserto de pessoas secas e sem vida. Onde somente a sorte ou o destino faria surgir vida entre suas rachaduras.
Por muitos anos vivi assim feliz por estar perto de todas as criaturas que habitaram meus pensamentos, minhas preocupações e me pegava por sentir também raiva por suas vidas insatisfeitas. E nesse deserto me afastei e levei apenas as lembranças boas de que um dia pertenci ao grupo de loucos e destemidos que eram todos, mesmo que por assim fingissem por apelo nossa convivência. Levei para a minha vida poucos e saudosos, e um em especial que ignorava a fortaleza que poderia findar entre nós.
De alguma forma havia uma alma em que me atraia como uma ima sem forças para negar, e assim nossa amizade se fez em uma busca incessante do que estava nos faltando a respeito desse mundo. E corajosos acabamos por nos aventurar novamente pelo deserto que ingênuos achamos que conhecíamos. Juramos pela milésima vez para esse mundo que não nos abandonaríamos, pois assim estava escrito, não importava quantas pessoas se aproximassem, nem todos aguentavam o vento forte e o sol escaldante de nossos pensamentos. Fizemos desse o nosso lar e contemplamos o Oasis que nossa amizade nos proporcionava. Mas e aquele aperto no peito da eterna busca? Será que assim ele sentia? Eu convivi por muito tempo com esse segredo em meu peito, para que nosso refugio continuasse a nossa espera até a eternidade.
Em uma noite onde o frio do deserto parecia nos engolir, ainda sim estávamos nas rédeas de nossa vida e junto ignoramos o vento e a solidão e dissemos versos para aquecer o coração um do outro, e aos poucos o meu segredo de desfez como tentar segurar entre as mãos cada grão de areia de nossa alma. Senti um medo incessante e não pude notar que aquela tempestade também inundava os seus pensamentos, e assim fizemos o segredo de cada um se tornar nossos. Senti o olhar brilhando e pude ouvir as batidas de seu coração assim como o dele ao meu. A minha alma não podia mais negar sequer um segundo dele, e assim nos fizemos um só entre a tempestade daquele deserto e nossas palavras se tornaram atos.
Amanhecemos a sombra de uma enorme palmeira de nossa felicidade e o sol saudou ao nosso amor pela primeira vez, o rio que tanto esperávamos agora estava lá, para saciar a sede dos viajantes do tempo, a lua iluminou a nossa estrada e felizes eles se encontraram finalmente no que era verdadeiro e era eterno. Ela era a mulher do deserto que a espera de seu amor não desistia sequer um dia. Ele o viajante do deserto que sempre partia para se perder nas tempestades, ainda sim no seu pensamento estava o seu amor e o Oasis de sua presença. Eles se amaram pela eternidade, uma força que nem o pai pode negar aos eternos mortais.
- Um Sonho-
A noite abraçou-me na calmaria do mar de teus amores, dei-te boa noite e sem lamentar distância, pois amar-te é tê-la perto, me entreguei ao sono...
Como encontro marcado encontrei-te no reino de meus sonhos e entre flores fulguradas na luz amena do sol na primavera, corrias livre...
Uma fada encantada e teus alvos braços sentindo o vento pareciam asas; corri de encontro a ti e a retive em meus braços, não incomodei tua liberdade, apenas a selei com um beijo de meus lábios... Inebriei-me no perfume de teu doce hálito, tremi no toque suave de seus dedos e a relva crescida entre flores foi o leito dos amores que nos recebeu... Teu corpo foi estrada que percorri com a minúcia contemplativa das mãos de um poeta, absorvi cada sabor e cada cor de seu amor, cada ruído de sua acelerada respiração foi musica na liberdade que senti quando teus braços se fizeram prisão.
Nossas bocas unidas tornou-se pintura de uma ventura, um quadro do futuro sendo pintado pelo destino.
Nossos corpos claudicados ao desejo fazia poema em cada movimento e nesse ensejo tudo era muito mais que sonhados pensamentos, e em mais um (não o ultimo) beijo, recebi teu cansaço saciado, calmaria da brasa da paixão, corpos suados, sorrisos largos... Olho nos olhos e o silêncio que tudo diz; no eco de tua voz acordei no emaranhado de meus lençóis, o sol brilhava convidativo, pássaros cantavam e a mente do poeta criava com a criação um mundo de novos tons!
Abri minha janela e deixei a luz do astro rei entrar, disse bom dia ao meu amor e eu sei que seja onde for ela vai me escutar!
- A busca pelo essencial-
-Velei teu sono persistente, e me permiti entrar em seu reino de poeta. Encontrei-te em sonho a observar o grandioso mar, no qual o sol se despedia mais uma vez para seus adoradores e nascer em outros tempos para outras criaturas. Senti a areia molhada em meus pés, que sempre permaneciam descalços e te encontrei com um abraço de eterno amigo, e lhe beijei os lábios quentes, que eu podia sentir o gosto salgado do mar no qual ele pertencia. Assim te invadi com os olhos e o acariciei os cabelos negros como a beleza da noite. O meu amor crescia ao observa-lo com a falsa sensação de calmaria que as águas nos fazem acreditar e fiz novamente a sua boca a minha, e me permiti sentir o seu coração que batia forte, sua respiração se tornava ofegante tanto quanto a minha. O imã de nossa boca se fazia presente sem poder se soltar. Nós dois nesses últimos tempos encontramos nossas pérolas, nossas conchas, ouvimos o balançar do mar e nos libertamos das ancoras de nossa vida.
Assim nos permitimos, entre as rochas daquela praia suspiramos e ouvimos o borbulhar das águas que quebravam na areia, e nosso desejo era forte como a água que se chocava com as pedras. Ali fizemos o nosso leito e entendemos que nossa força é enorme, que pode destruir cidades e civilizações, um dilúvio de emoções, mas necessário. Era essa a nossa condição, destruir e reconstruir, ser sol ou lua, tempestade ou calmaria. Não conseguimos viver sem a dualidade do ser e ser a alma uma da outra, é a criação divina que se desprendeu do pai. Eu fui Eva a maldita e Adão o influenciado. Somos seres desprendidos da maldade do universo, queremos viver longe da perversão, e ainda sim nos entregamos a luxúrias de nossos corpos pedintes pela essência um do outro.
-Concebendo o tempo-
Olho ao meu redor... Tantas flores morreram e tantas nasceram...
Olho a lua... Não findou sua valsa espelhada nos oceanos
Os dias continuam passando, o tempo não é contido pelos ponteiros quebrado de um relógio...
O tempo segue, posso calar meu verso, mas não posso impedir o universo...
A noiva azul rodopia cheia de graça seduzindo a luz do sol, e na opera da criação, onde incontáveis estrelas refulgiam na partitura do espaço a canção, não há tempo para esperas!
O tempo corre e discorre... Por isso a pressa é um erro e esperar demais é desacerto.
- Salaam e Ishq (Saudação ao amor)-
-Ah! Meu coração. Palpita ao sentir cada raio de sol que se faz amanhecer o dia e como uma leve vertigem me assopra a barriga, onde me perdi entre seus raios de sol e calmaria. Segui em passos determinados pela estrada, com um sorriso no rosto e a saudade nos braços. Segui livre pelas arvores e sem descontinuo, brindei alto a manhã e a relva de meus pensamentos.
Ah! Meu coração. Por que suplicas aquela vista, por que palpitas em alegria em cada raio de Atom pela manhã? É o amor.
Ah!O amor, desejo e rastejante ultraje, me vistam com vestes de alegria e mergulhei na tempestade de sua poesia.
-A Aceitação-
Era eu uma pena e um tinteiro e do mundo inteiro tive que me afastar
Era eu um poema profundo e para me ler tive que me ausentar.
Um fragmento perdido deitado no segredo cósmico de meu existir
desistir não foi opção e eu não abandonei a embarcação
apenas fiz dela esconderijo, guardei meus gritos e cantei silêncio e solidão...
Poeta forjado no magma escaldante de suas paixões
Derivado maldito de incontáveis explosões...
Parte de mim dorme no barco de sonhos cujas velas são sopradas por ventos de ilusão
outra parte é vendaval que se fez destino, um desesperado furacão em fuga contendo seu desatino.
Ser tudo e nada dizer... Ser absoluto e mesmo assim em mil pedaços se desfazer
gotas de verdade forjando o idílico espírito e engazopando seu eu lírico para livre ventar...
Sigo na imensidão do oceano, sendo eu o amador e meu próprio amar...
E meu amor sabe o que é vento e tempestade, dança no fogo e não teme se queimar
E meu amor sabe me amar, poderoso amor capaz de me destronar
Meu amor é a estrela, luz de muitos mundos, um silencioso quasar capaz de construir e desintegrar...
Não é difícil me confundir nas anáguas de seu existir
Não é difícil me perder no zênite de seu olhar...
E eu... Que cheio de honestidade posso embair ao mundo meus caminhos
esqueço-me de quem sou; para o que sou e porque sou, quando no meu amor me aninho!
Ciclos e mais ciclos dançando em rodamoinho, e já não importa a senda do presente passado...
Não importa se sou porta, chave, cadeado, ou o bem maior de quem bate do outro lado... Importa que sou inteiro quando ao meu amor me vejo misturado!
- Dia e Noite -
-Eu observava em volta, os altares e as imagens, e me perguntava em que mundo eu me perdi? As imagens que eu mais admirava eram os das mulheres e suas coroas de rosas, eu sonhava com uma vassoura e sua capa preta todas as manhãs.
Por que é pecado sonhar? Por que é pecado ser assim?
Nasci com uma fogueira em meu coração, e por muito tempo fui perseguida e reeducada como tal eu deveria pertencer. A prisão me amotinava a cada dia, e da luz da lua me perdi em pensamentos de verão. O som da chuva disfarçava os gritos de meus pensamentos, e entre tardes e noites me escondia entre as sombras para pensar e repensar.
Por que essa grande fome pela vida? Por que essa dor me aperta o peito ao ver as imagens de mulheres livres de muitos tempos atrás?Por que é pecado ser quem é? Ser forte e mulher, mostrar ao mundo o seu coração doce, enquanto a terra se desfaz em guerras.
E ali encontrei o meu refúgio, nas palavras do poeta das sombras, onde suas poesias se impregnaram em meu corpo e mente. Por muitas vezes me perdia em seus versos pela falta de prática de minha escrita, mas ainda sim estava lá, uma eterna expectadora de sua obra. Fascinada como Lisbela em seus sonhos de mocinho e mocinha e assim ele fez nascer de mim como um amante das escritas, sugar de mim as primeiras poesias de minha alma. Busquei a partir dali encontrar o sentido de minha vida e busquei entre os versos o amor perdido de minhas várias faces.
Encontrei a face de narciso a observar sua contemplação nas águas que seguiam firmes ao grande mar da poesia, me surpreendi com seu fascínio e descobri que tudo que observava era da minha duplicata, uma alma dividida em duas, um amor tão grande que deseja se fundir novamente, lutando para existir entre os tempos. Uma poesia dividida em dois, como o dia que divide em duas faces, o eterno equilíbrio da fome e da saciação. Um dá lugar ao outro, cada qual em seu tempo, e assim faço minha poesia, em resposta a ele.
- Estranhos Caminhos-
A vida era cheia de tão vazia... Luz alguma iluminava, bebida nenhuma embriagava
não houve amor que saciava... Somente em letras e saudade me via metade aliviada!
Era o peso do mundo, o som do absurdo que minha garganta apertava e me fazia mudo...
Lancei-me no mistério de se descobrir e encontrei um mundo encantado que animou a poesia do meu passado... E por que não? Aventurei-me, pois por uma sereia fui hipnotizado.
Amava nas fulguras da noite e no dia nauseabundo pela maresia me via afogado!
Desgraçado amor que entorpecia, trouxe das profundezas do mar todo o narcótico de minha poesia... Viciado em um espetáculo de verdades trajando mentiras me embriaguei com o vinho estragado e uma paixão que me fazia sentir violado!
Eu estava no palco encenando tragédia com uma flor venenosa do Caribe
E na plateia olhos inocentes emocionavam-se com a dor e o ardor de minha pena maldita...
pena que rasgava o pergaminho com a força magoada de meu furor e apenas os olhos da menina via o sangue sendo a tinta dos meus escritos... E como sonho tímido ela me desenhou em letras... Reaprendeu a pintura do artista poeta, que com frases e alma pinta telas!
E a menina virou mulher e verteu calmaria na fantasia, furtou-me dela, pois habitava na plateia e quando eu era cortina que se fechava, sozinha ela seguia para a vida...
Morreu a flor pervertida, seu rum secou e de mim, como lembrança, só uma garrafa vazia restou!
Morreu a sereia, uma ninfa inescrupulosa, e eu verti ainda despercebido, para fora de seu mar...
Ela desprendeu-me da fantasia, pois na vida de cores nítidas ela era a musa da minha poesia, quieta a me esperar em uma curva de minha estranha via!
Foi no caminho aonde piratas bêbados se conduziam no sonho bonachão de tantos meninos que eu descobri a deusa menina, o vinho puro que eu desconhecia, cheia de poesia que não embebedava e cheia de amor... Passada a noite de nosso fulgor somente a paz é louvada, o dia nasce belo e os pássaros cantam em honra de um amor brejeiro e sem ressaca!
- Realeza revestida de mentiras-
-Mergulhei por mares não mapeados, e fui rodeada pelas mais nobres criaturas que poderiam surgir em minha curta vida de pirata. Em seus dilemas me encontrei, e percebi que eu não estava nesse mundo sozinha. A amizade ali brotava como flor no meio do deserto de pessoas secas e sem vida. Onde somente a sorte ou o destino faria surgir vida entre suas rachaduras.
Por muitos anos vivi assim feliz por estar perto de todas as criaturas que habitaram meus pensamentos, minhas preocupações e me pegava por sentir também raiva por suas vidas insatisfeitas. E nesse deserto me afastei e levei apenas as lembranças boas de que um dia pertenci ao grupo de loucos e destemidos que eram todos, mesmo que por assim fingissem por apelo nossa convivência. Levei para a minha vida poucos e saudosos, e um em especial que ignorava a fortaleza que poderia findar entre nós.
De alguma forma havia uma alma em que me atraia como uma ima sem forças para negar, e assim nossa amizade se fez em uma busca incessante do que estava nos faltando a respeito desse mundo. E corajosos acabamos por nos aventurar novamente pelo deserto que ingênuos achamos que conhecíamos. Juramos pela milésima vez para esse mundo que não nos abandonaríamos, pois assim estava escrito, não importava quantas pessoas se aproximassem, nem todos aguentavam o vento forte e o sol escaldante de nossos pensamentos. Fizemos desse o nosso lar e contemplamos o Oasis que nossa amizade nos proporcionava. Mas e aquele aperto no peito da eterna busca? Será que assim ele sentia? Eu convivi por muito tempo com esse segredo em meu peito, para que nosso refugio continuasse a nossa espera até a eternidade.
Em uma noite onde o frio do deserto parecia nos engolir, ainda sim estávamos nas rédeas de nossa vida e junto ignoramos o vento e a solidão e dissemos versos para aquecer o coração um do outro, e aos poucos o meu segredo de desfez como tentar segurar entre as mãos cada grão de areia de nossa alma. Senti um medo incessante e não pude notar que aquela tempestade também inundava os seus pensamentos, e assim fizemos o segredo de cada um se tornar nossos. Senti o olhar brilhando e pude ouvir as batidas de seu coração assim como o dele ao meu. A minha alma não podia mais negar sequer um segundo dele, e assim nos fizemos um só entre a tempestade daquele deserto e nossas palavras se tornaram atos.
Amanhecemos a sombra de uma enorme palmeira de nossa felicidade e o sol saudou ao nosso amor pela primeira vez, o rio que tanto esperávamos agora estava lá, para saciar a sede dos viajantes do tempo, a lua iluminou a nossa estrada e felizes eles se encontraram finalmente no que era verdadeiro e era eterno. Ela era a mulher do deserto que a espera de seu amor não desistia sequer um dia. Ele o viajante do deserto que sempre partia para se perder nas tempestades, ainda sim no seu pensamento estava o seu amor e o Oasis de sua presença. Eles se amaram pela eternidade, uma força que nem o pai pode negar aos eternos mortais.
- Um Sonho-
A noite abraçou-me na calmaria do mar de teus amores, dei-te boa noite e sem lamentar distância, pois amar-te é tê-la perto, me entreguei ao sono...
Como encontro marcado encontrei-te no reino de meus sonhos e entre flores fulguradas na luz amena do sol na primavera, corrias livre...
Uma fada encantada e teus alvos braços sentindo o vento pareciam asas; corri de encontro a ti e a retive em meus braços, não incomodei tua liberdade, apenas a selei com um beijo de meus lábios... Inebriei-me no perfume de teu doce hálito, tremi no toque suave de seus dedos e a relva crescida entre flores foi o leito dos amores que nos recebeu... Teu corpo foi estrada que percorri com a minúcia contemplativa das mãos de um poeta, absorvi cada sabor e cada cor de seu amor, cada ruído de sua acelerada respiração foi musica na liberdade que senti quando teus braços se fizeram prisão.
Nossas bocas unidas tornou-se pintura de uma ventura, um quadro do futuro sendo pintado pelo destino.
Nossos corpos claudicados ao desejo fazia poema em cada movimento e nesse ensejo tudo era muito mais que sonhados pensamentos, e em mais um (não o ultimo) beijo, recebi teu cansaço saciado, calmaria da brasa da paixão, corpos suados, sorrisos largos... Olho nos olhos e o silêncio que tudo diz; no eco de tua voz acordei no emaranhado de meus lençóis, o sol brilhava convidativo, pássaros cantavam e a mente do poeta criava com a criação um mundo de novos tons!
Abri minha janela e deixei a luz do astro rei entrar, disse bom dia ao meu amor e eu sei que seja onde for ela vai me escutar!
- A busca pelo essencial-
-Velei teu sono persistente, e me permiti entrar em seu reino de poeta. Encontrei-te em sonho a observar o grandioso mar, no qual o sol se despedia mais uma vez para seus adoradores e nascer em outros tempos para outras criaturas. Senti a areia molhada em meus pés, que sempre permaneciam descalços e te encontrei com um abraço de eterno amigo, e lhe beijei os lábios quentes, que eu podia sentir o gosto salgado do mar no qual ele pertencia. Assim te invadi com os olhos e o acariciei os cabelos negros como a beleza da noite. O meu amor crescia ao observa-lo com a falsa sensação de calmaria que as águas nos fazem acreditar e fiz novamente a sua boca a minha, e me permiti sentir o seu coração que batia forte, sua respiração se tornava ofegante tanto quanto a minha. O imã de nossa boca se fazia presente sem poder se soltar. Nós dois nesses últimos tempos encontramos nossas pérolas, nossas conchas, ouvimos o balançar do mar e nos libertamos das ancoras de nossa vida.
Assim nos permitimos, entre as rochas daquela praia suspiramos e ouvimos o borbulhar das águas que quebravam na areia, e nosso desejo era forte como a água que se chocava com as pedras. Ali fizemos o nosso leito e entendemos que nossa força é enorme, que pode destruir cidades e civilizações, um dilúvio de emoções, mas necessário. Era essa a nossa condição, destruir e reconstruir, ser sol ou lua, tempestade ou calmaria. Não conseguimos viver sem a dualidade do ser e ser a alma uma da outra, é a criação divina que se desprendeu do pai. Eu fui Eva a maldita e Adão o influenciado. Somos seres desprendidos da maldade do universo, queremos viver longe da perversão, e ainda sim nos entregamos a luxúrias de nossos corpos pedintes pela essência um do outro.