Andre Anlub e Rogério Camargo 183
Com o toque do vento as velas das caravelas se enchem, e enchem de orgulho o navegante sereno.
Por todos os mares que ainda não, os mares todos que sempre sim.
Extensas terras desconhecidas se alimentam pelas mãos dos que enterram os conhecidos que se vão.
Tudo a saber e tudo a confirmar. A aventura é uma rotina, a rotina é uma aventura.
Intermináveis tapetes salgados cercam e elevam a nau, como um penacho no céu; como uma estrela no espaço.
Espumas breves contam longas histórias. Águas salgadas adoçam os sonhos mais inviáveis.
E viáveis fins justificam os meios, e no intermeio: tempestades, maremotos e afins.
Confins de mundos perdidos achados em viagens memoráveis: memória sempre, memória eternamente para o que não se esquece.
Com o toque da terra as velas descansam... Os ventos do sul agora balançam os coqueiros e os embebedados de rum.
Rumo aos rumores desfeitos, fincando certezas em alto-mar para ter a alta-terra em alta conta.
Na atmosfera que cerca o deleite no tempo que é gasto em abuso: aves dançantes, maresia aos montes e um monte de terra para a ampulheta em desuso.
Maresia grudando na roupa, nos cabelos, nas intenções. Maresia sabendo que veio pra ficar e pouco envergonhada disso.
Aves não grudam em nada, e aos contempladores solta e balança as visões; aves encurvando pescoços e dando dica dos destroços de outras embarcações.
As caravelas escancaram velas com as mesmas tramelas soltas: o ar das aves é o mar delas.
Chegam, atracam, conhecem, fincam sua bandeira imaginária e já vão à busca de novas terras.
Novas terras por novas águas, por velhas águas, por quaisquer águas, desde que haja vento, que não se rasguem as velas, os sonhos, a vida.
Rogério Camargo e André Anlub
(22/6/15)