André Anlub e Rogério Camargo 154
Quero fazer um poema para ter um poema depois, quando pouca coisa tiver.
Dentro do talvez e do até, achar matéria-prima para uma rima muita ou qualquer.
Como quem sai da sombra e agarra docemente todo o sol que puder.
Baú e as gavetas abertas, papéis revirados em mil verves incertas.
Sutilmente seguindo um rastro de estrela, uma réstia de lua, um perfume de mulher.
Olhos em preto e branco – que se foram; alternativas multicoloridas – agora abertas
Como os braços do céu esperando o cometa que lhe convier,
Como a vida servindo em colher uma sopa de infindas descobertas.
Quero fazer um poema que seja a sopa, que seja a descoberta e que seja a colher.
A mente descansa correta, pois a criação oculta se faz inteiramente concreta.
É como a alma da alma passeando livre e desimpedida por onde quer.
A flecha em chamas indo a esmo pela chuva, entre curvas de rios e ruas no alvo acerta.
E enquanto queima o que se deixa queimar com resignação, abre os olhos para não ver
E enquanto não teima em não querer ser o que é, faz nascer e renascer sua poesia e o seu poeta.
Rogério Camargo e André Anlub
(17/5/15)