André Anlub e Rogério Camargo 153

Embarco neste amor que me toca em absoluto, desnudo e sincero, que só de ti poderia vir.

Sou navegante atento desatento: cuido os recifes e corais, mas durmo embalado pelas ondas.

Vejo o sol poente, morrendo e renascendo para morrer novamente entre duas montanhas secas pela falta de chuvas; lembro-me dos ensinamentos de Sidarta.

Preciso reler “Sidharta”. E “Demian”. E “Viagem ao Oriente”. E jogar no oceano meu jogo das contas de vidro.

Toco meus dedos nesta água abençoada e sinto-te em equilíbrio; a terra treme e como nos escritos: os desejos e tentações dos demônios de Mara evadem-se.

A tua palavra me fala da minha palavra e do que deixei lá dentro, naquele baú que um dia me mostraste.

Com a mente em paz, desperta para a paz, e cercado por flores de Lotus, mares e estrelas brilhantes, o universo conjura a mim; não há nada mais para buscar ou consertar.

Resta o afogamento: no mar do teu amor, no amor do teu mar: há mares que vêm para o bem...

Minha jornada continua banhada no ascetismo. Reafirmo todo este amor liberto na alma e deixo-te voar livre para onde bem queiras.

Asceta, esteta, atleta: completa presença da abstração, total concretude da essência.

Velas se acendem e ascendem aos olhos, aos ventos e a terra. Maré mansa no meu Ganges salgado – não há drama, o Darma não dorme e é tão comum e intenso aos navegantes leais.

Deposito minhas certezas ao pé de tua paciência e tu as recebes com o mesmo olhar que me acende e mantém a chama desde sempre.

Beijamos os mares, abraçamos as terras e veneramos os céus sem coações, ambições e cárceres – “da lama nasce a Flor de Lótus”.

Talvez sejam apenas minudências. Se forem, culminares em mais paciência para comigo não será surpresa. Nem que a Flor de Lótus viceje no meio do oceano.

Rogério Camargo e André Anlub

(16/5/15)