O palco é seu... Nosso!
Toma! O palco é seu.
Faça dele bom proveito
Você foi eleito
Ensaie seus passos
Abra o compasso
Derrama sobre ele o fel
Todo o veneno infundado
Finja que é mel
Os atos escondidos
E o mal que sempre escondeu,
roubando-lhe o sorriso guardado
que a vida não devolveu.
Você é o protagonista
O maquinista do trem
Dirija como lhe convém
Destila o que há na alma,
o que guardou em segredo
e lhe queima as veias...
Um nó preso na garganta
Debulhe suas alucinações
O soluço que não se abranda
Todas as humilhações...
As sevicias infames
Na pele de personagem
vivendo sórdido enredo.
Fugindo das suas características
Não faça figuração.
Encarne a personagem
Em toda a encenação.
Nasceste para a representação
Despe a tua pele de lobo
Encarne a de cordeiro
Entre com todo seu lodo
Nos seus atos pensados
Dá-lhe autenticidade,
aquela que ainda restou.
Solte as palavras às luzes dos refletores;
que elas reflitam, bem alto, as dores...
Segura as que calaram e perca as que se foram.
Rompa com todas as amarras
E navegue com o vento em popa
Aqui abraça a sua oportunidade
Tira a máscara que o sufoca
A capa que os sentimentos tolhem
Escancare a mágoa destilada
Não ouça a música que toca...
Canto de sereia pra levá-lo de volta...
Sinta-se livre, respira o novo ar...
Mostra todo o teu escárnio
O riso preso na boca, nos lábios
Transborde suas fantasias
Seja protagonista de sua própria vida...
Depois se despeça do palco
Com o brado que grita rouco
A do artista que sempre lhe trai.
Carmen Lúcia & Hildebrando Menezes