Tarde fria – Um duo
Fim de tarde.
Infinitamente tarde.
Que faço do amor
que não se finda
com a tarde.
Como a tarde.
É o entardecer, o ocaso
Por do sol sem alarde
Anuncia o anoitecer
Venta forte! A alma sente!
E chora lágrimas comoventes
Dos sonhos que não se acabam
embrenhados na tarde que se vai,
se esvai.
Sem piedade, sem aviso, ela sai
e a nostalgia que fere, cai
como fino punhal
trazendo o final.
O enredo é tão deprimente
Faz-nos sofrer intensamente
Será mesmo que já é tarde?!
O que restará de lembrança
Por toda parte
o amor invade.
Sem saber que já é tarde,
sem saber o quanto arde
quando é infinitamente tarde.
O poeta reluta e não se abate
Pensa, reflete, questiona...
Ele quer provocar o debate
Pesquisa no mais profundo da mente
E à tarde finita e fria
se alastra pela noite
sem sonhos, sem poesia,
inexorável e vazia...
Pela pele só o delírio do calafrio
Que judia e promove arrepios
O que nos reserva a madrugada vadia?
Só o açoite gelado herdado da tarde?!
Ou a luz da alvorada trará alegria...
E pelos cantos o amor se anuncia
pensando que ainda é cedo,
que ainda é dia...
que ainda cabe no curto espaço de tempo,
que cabe à tarde
que se finda,
levando toda magia.
Carmen Lúcia & Hildebrando Menezes