André Anlub e Rogério Camargo 115
A água fria na cascata, tempo gélido, céu gris, bruma pairando baixa pela mata e o sortilégio de um aprendiz.
Passos cuidadosos medindo o perigo e a segurança, colocando os dois numa balança, com a atenção de quem avança e a predileção pela alegria. Bem, era assado e assim que se dizia.
Olfato apurado: adiante há algo interessante. Mas só um ignorante avançaria sem medir o que pode e o que poderia.
Olhos de Lince no lance: há rastros largos que um leigo dirá ser da chuva. Dá chuva? nem chovendo!
Olhos de lanceiro lançando-se, mas com cuidado e método, com método e atenção, com atenção e cuidado.
Vê por todos os lados, e vê por dentro e por fora, e vê até além dessa bola: o tudo exposto em um porta-retrato.
A água fria da cascata pode ser a água quente da cascata, a água fervente da cascata e a mata, que mata, pode (deve?) dar vida.
Quem sabe a vida espera à frente e curará no mundo toda ferida – moléstia do doido doente que tudo tem mas nada presta.
O quem sabe é um “quem sabe?” Por enquanto é aqui e agora, um passo depois de outro, uma espreita depois de outra.
O rastro largo a cada pensar vago o deixava ainda mais fuçador; a água fria presta-lhe o banho e o sol não deu as caras, mas emprestou seu calor.
A floresta é o que resta e não se presta a descasos. Avançar sempre, mas com estratégia. Régia recompensa? Talvez, mas pouco importa. Tirando para sobreviver até amanhã já está ótimo.
Rogério Camargo e André Anlub
(7/4/15)
Site: poeteideser.blogspot.com