Hoje sou noite – um duo
Hoje sou dia sem luz.
A noite me roubou o amanhecer,
cravou-me sua escuridão,
adiou seu anoitecer.
Horas de longa espera
Angústia pela falta de ar
De o interminável alvorecer
Na complexa sofreguidão
Quis para si todo clarão,
sequestrou a lua
e na avidez de tê-la
apagou as estrelas,
atirou-me ao chão, nua.
Linguagem sem tradução
Para descrever a intensidade
Desta interna e viril paixão
Que aflorou nossos laços
Na busca da melhor emoção
Na penumbra, tateio o espaço.
Vagueio, me venço pelo cansaço.
Não sei o que faço.
Procuro e não acho.
Mas, vou ao seu encalço
Disposto a conseguir o intento
De tomá-la em meus braços
Para esboçar o nosso facho
Não vejo o sol.
As manhãs.
O arrebol.
O verde das hortelãs
O volver dos girassóis.
Como estivesse algemado
Preso, amordaçado, no paiol
Desejo... A minha libertação
Mas estou inerte, sem ação
As cores, os matizes,
a complementação dos arco-íris.
Perco-me na escuridão.
Da alma, o questionamento:
Qual a cor da solidão?
Nessa mágica aquarela
De tons sobre tons...
O pincel arrisca impulsos
Da dor, do confinamento?
Da aflição, do desamor?
Da separação, do sofrimento?
Rasgo mil horizontes
Navegando na contramão
Com as últimas forças
Da vida por um fio
lançada ao desafio
da fome que impele
que o espírito se rebele?
_Carmen Lúcia_ & Hildebrando Menezes