COISAS DO MEU SERTÃO
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO
VEJO UM VAQUEIRO ABOIANDO
DE CHAPÉU DE COURO E GIBÃO,
MENINO CORRENDO DESCALÇO
NUMA VARA COMO ALAZÃO,
VEJO LONGE A LAVANDEIRA
VOANDO PERTO DO CHÃO,
NA ARVORE UM FAVO DE MEL,
UMA ABELHA E UM ZANGÃO.
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
VEJO A CASINHA DE TAIPA
TERREIRO DE CHÃO BATIDO,
NO ACEIRO UM PÉ DE MANGA
COM UM FRUTO JÁ ROÍDO,
UM PÉ DE JABUTICABA
COM SEU FRUTO JÁ NASCIDO.
VEJO AO LONGE UM JUAZEIRO
EM SUA COPA UM GAVIÃO.
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
VEJO UM CAMINHO ESTREITO
QUE DÁ PARA UM ROÇADO,
PERTO DE UMA TAPERA
COBERTA POR MELÃO BRABO,
UM LAR QUE FOI DE ALGUÉM
É UM CASEBRE ABANDONADO.
VEJO UMA LAVANDEIRA
NA BEIRA DE UM RIACHÃO.
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
VEJO UM ENGENHO ANTIGO
COM AS CALDEIRAS FERVENDO,
MEL, RASPADURA E BATIDA
E A CANA SE MOENDO,
PARA FAZER A CACHAÇA
QUE O PATRÃO TÁ BEBENDO.
VEJO OS MENINOS BRINCANDO
SE ESCONDENDO NO GALPÃO.
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
VEJO A CASA DE FARINHA
MANDIOCA PRA RASPAR,
FARINHA PARA MEXER E
BEIJU PARA VIRAR,
A GOMA SENDO ESPREMIDA
PRA TAPIOCA NÃO FALTAR.
VEJO UM PERU AMARRADO
BEM PERTO DE UM CAPÃO.
EU VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
COISAS RUINS E COISAS BOAS
EU TENHO PARA LEMBRAR,
DO SERTÃO ONDE NASCI,
SAUDADE SINTO DE LÁ.
HOJE O MEU PENSAMENTO
ESCREVO PRA REGISTRAR.
E TUDO QUE LÁ VIVI
AINDA ME TRÁS EMOÇÃO.
QUANDO VEJO EM MEU PENSAMENTO
AS COISAS DO MEU SERTÃO.
COISAS DO MEU SERTÃO ll.
As coisas do meu sertão
É mesmo de se admirar,
Menino com baladeira
Não acerta o sabiá,
A cotovia cantando
Para o sertanejo alegrar.
No céu trovões estrondando
E a chuva molhando o chão.
É de se admirar,
As coisas do meu sertão,
Quando chega a primavera
Tem flores pra todo lado,
Jasmim e rosa amarela,
Perpetua e crista de galo.
No roçado milho-verde,
Feijão-de-corda e rosado,
Jerimum e macaxeira,
Quiabo, maxixe e varjão.
É de se admirar
As coisas do meu sertão.
Quando chega o São João
Tem festa no arraiá,
Bolo, pamonha e canjica
Na mesa não pode faltar,
Menino olhando o balão,
Homem soltando rojão,
E o santo no altar,
Faz a sua proteção.
É de se admirar
As coisas do meu sertão.
Na igreja a novena,
O padre rezando o terço,
As biatas respondendo
Como forma de canção,
É um bonito cortejo.
Amoçada se namora
E escondido trocam beijos.
E no caminho da capela
Segue outra procissão.
É de se admirar
As coisas do meu sertão.
O sertanejo é feliz
Mesmo sem muito na vida,
Quando é inverno tem fartura,
Na seca não tem desengano.
Guarda o que tem pra comer,
Durante o resto do ano.
E cria galinhas e cabras
Para comer com feijão.
É de se admirar
As coisas do meu sertão.