Destino

Eu vi o céu na relva, de um brilho inconstante, sua feição amargosa, mas de uma doçura inestimável, o que se passava na cabeça daquele imenso pôr-do-sol. As árvores também pararam para vislumbrar aquele momento encantador, e os animais, e até os anjos, o que seria aquilo, quem era ela?

De postura combativa, olhos meigos porém severos, caminhou com os pés descalços, vestido cor de luar, as mãos afagando as flores que surgiam no caminho. Tudo parou! Sua beleza majestosa fez o chão tremer, ela seguia decidida, os olhos focando seu destino...

O que buscaria? Para onde ia? E porque tanto o fazia se os obstáculos resistiam em impedi-la o caminhar? Nenhum espinho a segurava, nem os picos, nem vales, nem o calor escaldante do pior dos desertos, era determinada e sagaz, e dava vida a tudo o que tocara, tudo em seu caminho criava cor

O amargor não estava só nas suas feições, estava também no gosto de sua boca. Ha muitas vidas ela lutara para se libertar de sua sina. Dia após dia, noite após noite ela tentara esquecer, mas seu destino a impelia a continuar, ela precisava ser livre. De repente ela avistou de longe o que seus olhos imaginaram ser uma miragem...

Olhara calorosamente aquela imagem ao horizonte, seu olhos quiseram saltar-lhe, mas ela os tranquilizou. No que daria isso, uma coisa era certeza, o nome dele era passado

O sol já havia adormecido no leito do horizonte, mas a luz que emanava de seus olhos pareciam duas estrelas derramando uma luz prateada na relva ao redor. Tudo ganhou força e brilho, pois a sua frente surgiu aquele que um dia ela amara. Ela foi tomada pelo sentimento ambíguo de amor e ódio...

Mas não hesitou, ela seguiu em frente, o coraçao apertado, foi em seu caminho, no decorrer do caminho buscou a lembrança de tudo dele que havia feito-a presente, e procurou relembrar tudo dele que o havia feito o passado.

Por alguns momentos pareceu querer desistir e voltar atrás, mera ilusão, ela era firme, determinada, sabia a longa jornada que havia trilhado e quão especial fora cada momento a que foi condicionada a empos superar. Ela não hesitava, e seu semblante antes nervoso e amargo se dirimiu pra dar lugar a uma face angelical, e antes que ele pudesse exprimir uma palavra, olhou-lhe nos olhos e falou: "Quanto tempo..."

Se antes sua beleza irradiava vida, agora seu sorriso parecia o proprio sol! O tempo parou, tudo ao redor silenciou, como se toda a Terra tivesse esperado tal encontro por muitas vidas. A lua banhou de prata as silhuetas que lindamente se aproximavam e pouco a pouco as estrelas surgiam para testemunhar. A noite chegou e conspirou a favor desse momento...

Mas como num súbito inesperado seu coração caiu em lágrimas, percebeu que a força que tanto possuíra, buscava desaparecer, o que fazer, o que fazer, Como lidar com um coração grande de vazão pequena. Para que rumo levar a história, o passado quis abraçá-la, mas ela o recusou, mostrou que não é de se entregar e quando ele menos esperava ela mostrou suas asas...

Aproximou-se, chegou bem perto dele e respondeu: "Há muito tempo! Esperei muitos anos por esse encontro, precisava olhar nos teus olhos e dizer uma coisa" - Ele a olhou esperançoso, imaginou que sempre seria assim, ele sempre a teria sob seu domínio, por mais que a machucasse, por mais que a traísse, por mais que a privasse de sua liberdade, ela sempre voltaria para seus braços. No ímpeto de beija-la aproximou seus lábios e sentiu que viveria outra aventura, quando um sorriso malicioso e um dedo decidido o interrompeu. Ela o encarou com olhos decididos e feridos, relembrou uma história amarga e disse: " Hoje eu sei de algo que mudou a minha vida" E ele seguro de si imaginou ceninhas românticas e a força de seu poder sedutor se apoderar de outro corpo, tentou novamente, mas ela se afastou e abrindo suas asas proferiu seu veredito: "Não há liberdade maior do que pertencer a si mesma, estou livre de ti!"

E apoderando-se de sua liberdade, voou!

Psiquê e Ib Souza