DUETO MIGUEL EDUARDO GONÇALVES POR LUIZA
FLAMENCO
Como chama que sobe e não se apaga // Cantilenas açoitadas de dança
Arde sorrindo se contorcendo ao fogo // Medieval caliginosa sorvendo
Em espiral subindo, e só, dançando // Herança dos dominadores espanhóis
Soluça convulsivamente em graça // Maltrata o coração de quem não partilha
Estranha, e no exótico sapateado // Translúcida e eminente força
Vem, e se aproxima em flama // Como andaluzas em flor abrindo-se
E das palmas compostas em descomposta harmonia // A espada desmonta em súbita cavalaria
Contagia, ejetando-se da ventania por todo o arvoredo // Flor vermelha sangrando morena
E por entre eles se instalando, deflora, e chacoalha // arremessa suas saias e chama
A música contagiante e nua, que do mistério é segredada // O mais deleitoso enredo à dança inebriante
Em ais vulcânicos, até que do tablado soam vindos // Furacão devorado pela rainha Paixão
Arrebatados repiques pelos dedos nas castanholas // Entoando olhares belicosos e chamativos
Como se fossem do inferno brotados raios deleitantes // Enganoso charme serpenteia nos ares
Como vozes também dele eleitas, delambendo-se // Êxtase de um prazer retumbante e inesquecível
Deitando gozo ao ar! // Homem e mulher desarmados
Amando as castanholas pairadas nos lençóis nús de cores...
Miguel Eduardo Gonçalves // Luiza de Marillac Bessa Luna