Parte I



Samsara
 
Me admira ver tua inadequada postura diante de cada prato servido
Desdenha de tudo, e come de quase nada, em tudo sente amargura;
Desafia o vento e desafia a chuva.
 
Veste-se de negro para se desfazer da ternura que tímida esconde
Empunha-me com braveza de homem, sem medir-me o tamanho
Se te caio nos ombros te parto no meio.
 
Arrebatou-me de entre o tesouro perdido, de meu senhor esquecido
Para usar-me como fosse um brinquedo de meninas
Mas vai chegar o momento em que haverei de retornar de onde venho.
Para que seja restaurada a dignidade de meu senhor, o soberano.
 
Porque não sou de tua propriedade, e como sabes eu tenho dono
E para junto dele pretendo conduzir-me em futuro
Assim peço que desde agora me guarde entre as sedas azuis
E recoloque devagar no vão da madeira entalhada do trono.
 
Luna
O que desdenho parece, é cuidado
minha inadequada postura é medo
tanto do vento quanto da chuva
Não desafio, apenas me defendo
sonhando com uma noite calma e estrelada
esse é o prato, que servido de quase nada
me satisfaz... O que fazer se preteriste a paz?
 
Arrebatada fui em igualdade
o teu senhor, meu protetor, ensinou-me sobre liberdade
Não foste meu brinquedo de menina
te amei e ainda te amo, com toda força que me anima
Perdão se te fiz espelho onde meu olhar reluziu...
Não tens dono, és ferro, és fogo, elementos da terra...
O que fiz foi respeitar-te, sim, hei de guardar-te
Pois não é meu... Brilho que na escuridão acendeu!
 
Sansara
 
O que fizeste ao meu dono não tem para mim importância
Sei apenas que desde então, teve ele as mãos trêmulas
As vezes o pensamento em distancia.
 
Ficou desatento da disciplina precisa
E se a noite fosse de lua, olhava o céu em agonia
Me abandonando descuidado, pondo em risco a própria vida.
 
Não soube tu é certo, que ele foi nesta questão, descoberto.
Estava intranquilo e disperso e o inimigo não viu
Arrojado e aprisionado como um animal vil
Sofreu tortura física, sofreu tortura  moral.
 
Para não revelar-te; teve a pele marcada por meu fio
Risonhas marcas com teu nome desfigurado
Para que lembrasse a promessa, feita enquanto a brasa em seu peito
Queimava-lhe a carne, que perfumava o ar quente.
 

Luna

Teu dono ardiloso menino
Homem que se esgueira nas arestas do caminho
Esconde-se onde caiba seu corpo e suporte seu peso
Usa o que está ao alcance da mão para fugir...
E tu, reluzindo tua revolta, me parece de teu dono mais uma volta
Se o deixei de mãos trêmulas, ele me fez parar o coração
 

Talvez não saibas tu, mas cada marca infligida
Queimou e sangrou em minha pele
E para que ele não soubesse me vesti de negro
Cobri meu corpo e sufoquei afligida...

Talvez não saibas tu que ainda hoje
Mesmo revelada me escondo na lua
E teu dono se esconde em quem está do lado

Abandonada, presa na bainha és tu
Lâmina da honra sepultada que guarda um suspiro de minha alma  


Sansara



Não me comove em nada como fazias ao meu senhor
Ele tinha-te como uma pétala de linda flor
E queria que nada te pudesse alcançar, e fizesse sofrer.
 
Teve a vida recortada entre o campo de trabalho
E o negro de tuas tranças, pobre coitado, vivia apavorado
Mais parecendo um fantasma alerta, no milharal.
 
Era um guerreiro desigual, sem medidas, sem tempo nem lugar
Era um homem perdido, que desejava apenas voltar para teu quintal
E beber da água fresca servida, pelas tuas mãos pequeninas e brancas
Da menina princesa, em hora escondida dos tribunais.

Luna

Não quero comover-te, pois seja ele o que és tu
Se não um metal velho ao canto...
Uma lembrança de sangue, um grito e um pranto...
Queres meu sangue em ti uma vez mais?

Teu dono deixou o milharal
Encontrou um jardim, deixou a sakura
Encontrou uma rosa especial...

Hoje ele pousa em segurança, se não fosse tu
Não teria de mim se quer uma lembrança
Se não me causa dor?

Sim, pois almejo de seus braços a segurança
Hoje me cobra o dragão a verdade escondida
tu lâmina afiada provoca a princesa menina...

Teu dono divorciado de tua justa violência
ensinou-me que amar é paciência...
Mas, nada tenho eu com ele, apenas contigo
magoa de corte cego e choro contido

Sansara

Como uma lamina velha eu seria se meu material é platina?

E quem pode realizar os sonhos, senão os homens?
Acaso não sabes que as espadas não sonham?
 
Criaram-se as armas para matar o medo, e as chamam de brancas
Como eu, arma branca, para cortar, cortar os pulsos
Cortar as matas e fazer um trilho, e seguir sem rumo.
 
O homem pega a espada firmemente e enfrenta o amor
E por amor lhe corta a cabeça, e há quem acredite
Há quem aceite como prova de amor.
Mas quem fica sangrando depois que o  tempo passa? A espada.
 
Não há marca em teu sedoso pescoço e nem peso na consciência
De teu algoz, porque essa mão agora segura outro metal
Mas fica aqui em minha lâmina os pingos vivos
De uma ação que não foi idealizada em minha composição, me entendes?

Luna

Chamo-te de velha por ser passado
Mas viva está, e ainda reluz no olhar molhado
Lágrimas das pelejas da vida
Perdoe-me salvadora de minha honra...

 
Tanto teu dono me convenceu que era tu dele uma extensão
Que te ver sofrer em separado me é estranho...
Mas aceita de paz e de ouro um banho  em remissão!

Esperas algo de mim?
Guardar-te... Esconder-te... esquecer-te?



Sansara


Não banha-me de ouro sem antes retirar de mim teu sangue
Ou não consegues ver que vivo com o peso de tua dor?
Preciso que recolhas o que te pertence, beba-me e limpa o meu nome.
 
O amor que para uns é razão de vida, para outros é a parte apodrecida
É o abandono é a resposta para o que não quer ouvir
Quero partir sim para onde eu não sei, nem sabe ninguém.
 
Mas não pretendo levar comigo tua cor, teu perfume, nem tua incerteza
Muito menos dele quero levar em mim a digital e o arrependimento
Por isso deve sutilmente levar-me ao lago mais limpo na noite mais enluarada
Ao lugar mais calmo de sua irrequieta alma e lá silenciosamente,
 
Me abandonar, para que sobre a terra macia eu durma,
Mas pensa antes, porque é grave essa empreitada
Deposta eu ao solo sagrado de tua alma apaixonada
Morrerá para sempre esse amor, inocente amor de jovens orientais...

Luna

Eu cantei ao dragão que meu destino é solidão
Mas pra ti digo que não é tristeza...
Que seja de uma vez, creio que doera menos
Arranco-te de meu peito e com minhas lagrimas de gratidão
Purifico tua platina, livro-te de meu rubro sangue...
Deixo-te sobre a terra e de ti me despeço...
Ao inocente amor dou adeus...
Durma alma do guerreiro
que teu dono não sinta mais medo
E eu seguirei rumo ao meu destino
Que em nada se compara a felicidade deste mundo
Não sofrei contigo a espera...
Te livro das digitais de minha dor e de minha saudade
Nasci para um manto de linho branco
Nada mais que isso... parto com minha alma
E deixo contigo a lembrança quente de um desesperado beijo...

para onde vou?
Não sei, sei apenas que quero chegar onde não há barulho
Quero a paz na escuridão de meus olhos fechados...
Nem guerras, nem festas, nem amores e dores...

Durma espada do guerreiro que me amou...
Deite-se nesta terra e que a lua abençoe nosso destino....
Acabou....

Sansara

O que existe atrás da escuridão dos teus olhos fechados

É uma espada que se transforma de platina em cristal
Se colocando agora sobre a terra, ereta, para tuas mãos!
 
Aceita-me como teu instrumento para a luta que é renhida
Não sou mais uma espada esquecida por um soldado
Que me lançou por terra, enjeitada.
 
Coloca-me no estojo aqui próximo guardado, na rocha azulada
E usa-me quando sentir que é hora de servir
Serei para a causa que levantar, onde for, em qualquer tempo, qualquer mundo.
Estarei ao teu lado ou na bainha quando desejares.
 
Se quiseres permanecerei; caso contrario me auto destruirei
Porque a ninguém mais pertenço, e voltarei ao cosmo
Por isso pensa novamente, e decide agora
Serei tua arma de luz,  e serás minha senhora

Luna
Torne-se força vital do cosmo, consciência a velar por mim
No quente núcleo de um estrela
Ou no horizonte de um mar sem fim....

Volte paras as sedas de Kuan Yin
Eu sei que em espada, em cristal ou platina
Aqui, ou acolá, contigo hei sempre de contar
No entanto és liberto de senhores...

Flutue em universo estrelado com tua essência
e teus pendores...
Não inspires e sirva um homem apenas
Seja do universo, deite-te no berço da eternidade
Ensine para todos os povos tua lealdade...

Torne-se luz, embaixadora da paz

De um avatar de esperança... Seja energia que enaltece a esperança
És livre, és dom, é a consciência do amor
Siga livre do apego e da dor...

 
Judá
 
Escuto essa breve conversa amena, de amigos que falam as avessas;
Mas não contenho um riso sarcástico por ver que são mentirosas as falas
Nem um nem outro diz o que pensa de fato.
 
Estou bem e observo tudo que fazem vocês
Lambendo minhas garras afiadas à espreita apenas
Do momento do bote, na garganta desta pequena.
 
E esta espada que já não está amolada é cega das verdades
Ficou parada no tempo acreditando fosse de ouro
Mas é de material desconhecido ainda, é fibra impura.
Usada pelos homens sabidos, das coisas de outro mundo.
 
Que neste mundo não serve para nada além de cortar a carne
De marcar a terra e de derramar o sangue;
Se desconhece viva, e pensa ser só matéria fria
Não tem o fogo do espirito, não tem acredita, fim nem começo
 
 
Luna
E tanto conheceu do amor o dragão
Tanto dele sorveu que precipitado foi do céu...
Tanto tomou da mentira que eu te chamaria
de: Meu cálice de refinado fel...

E tanto afiou as unhas que perito é em corte
reconhece na espada em desuso seu fio pobre...
Mas garras tão afiadas lhe retalhou o próprio couro
tanto conhece do homem o dragão
que fez de alcova um precipício cheio de ouro

Tanto conheces tu Judá da gana humana
que apenas rindo e cravando a unha em minha garganta
sentes que algo de grande ganha!

A inverdade está na espada que chora
e no portador dela que prefere calar
A inverdade está na posse de quem ama...
no choro velado da vingança...
A inverdade está nos corações
que não querem ter esperança

 
Judá II
Fala de mim com sabedoria oh mulher!
De um dragão conhecedor das manhas e das tramas humanas
E, Fala mais de si do que de um dragão revoltado.
 
Mas guardo as palavras que lanças com rancor
Embora não saiba o que esperava eu fosse ou tivesse
Pois não ofereci o cálice de refinado fel.
 
Afio as garras porque delas preciso para as horas incertas
Para gargantas de mulheres ou para as vestes destas
O certo é que faço o que desejam e depois se arrependem
Também assim foi contigo, por isso nada revido.
Da espada eu falo sim, com propriedade de causa
Porque deve esta acordar e deixar de ser descuidada
É uma arma potente, e deve reconhecer-se assim, deixar de ser covarde.
Ganhar o caminho certeiro do coração de quem não a merece.
 
 
Luna

Dos céus fomos todos precipitados
O homem é feito de dois lados
por isso conheço do teu coração
pois as manhas do dragão é traço marcado...

Guarde as palavras e se livre do rancor inventado
pois o que seria do guerreiro da flor
se não fosse tuas garras e o abanar de teu rabo?

Todos nascem para um destino certo
e se a espada for coragem e liberdade
que ela seja retirada de onde foi guardada!

Existem mais espadas que guerreiros para empunhá-las
Mesmo que todo coração infiel fosse cravado
ainda sobraria lamina para mais corações não inventados...

Sim, o dragão tem sua porcentagem de dor...
Mas a lua não viu-se em obrigação de seu amor
aqui na terra há mais mulheres
e no luminar da noite não há ardor!




Judá III

 
Fui convocado à peleja e me apresento com certeza
Feito as apresentações deixo que transcorra ao contento de tantos
Já sabemos que caímos do céu, mulher, homem, e homem, mulher.
 
E ainda caminharemos embaixo do sol da Terra para depurar
Inacabada história, que virou a página desta forma, sem um final
Mas louvo, que não tenha desenterrado nenhum esqueleto desta feita.
 
E não entendo haja preciso guardar mais tormentos
Cada um escolhe a vestimenta para qual banquete comparecer
Por isso não foi desta vez que sentaremos a mesma mesa
Porque são muitos os convidados para as muitas festas.
 
Embora saiba dentro de mim que não se desfez um laço
Como deveria ser, um simples puxar das fitas para desatar o nó
Acabamos por puxar rápido demais e ainda existe uma dobra
Que o tempo dela se encarregue, vou aqui continuar minha jornada.

Luna

O que desejas ouvir o dragão?
é pesado demais a verdade de meu coração
eu tentei fazer do nó um lindo laço
em escamas e espinhos sangrei a mão...

Muitos tocaram esta fita

Por que haveria de ser a responsabilidade só minha?
Eu tentei, respirando fundo, fui capaz de dar-te um fôlego de vida...
Mas exigente o dragão não quer amor, parece faminto
quer comer, mastigar e sentir a maciez da carne do coração!

Lamento se o amor lhe veio sem uma gota de sangue da paixão!



Judá
 
Nem só de paixão vive o homem
Também acreditei pudesse, pois foi fácil reter as presas
E foi por ser mais barba azul que simplório jovem, que perdi o melhor.
 
Não que eu seja bom nem seja muito capaz
Mas não desejo voltar atrás nem tão pouco brigar
Parece que não ligo, que desprezo, mas acredite, eu sinto muito medo.
 
Para ser um dragão, ser um leão, um ser perdido, e assumir,
Precisamos ter coragem, ter paciência, ter uma brutalidade interna.
É um dom, uma capacidade desenvolvida, mas tem um preço
Um preço que é difícil medir, explicar ou repartir, é solitário.
 
Por isso entenda oh mulher de nobreza e de avareza intencional
Também conheço suas dores tanto quanto conheço suas qualidades
E não pretendo mais ser um espinho em seus sapatos
Mas quererei meu lugar, como um dragão que sabe o que reivindicar.
 
Luna
Conheço teus medos e como dragão
és mais nobre que como homem corrompido em desejo...
Sabes ao que veio, mas ainda não saber usar
é isso que nos une  em igualdade...
O que quero e anseio não nasce de um beijo que te suga de uma vê a seiva
Não nasce na brutalidade, para ti que conheces minhas dores
e me pinta com as tinhas dos idos tempos
sabes que teu dom faz paralelos nossos caminhos, mas nunca os mesmos...
Eu necessitava da antiga coragem de me balançar em tua cauda e nela cravar os dentes
ou a coragem de quem segura a espada e luta pelo amor
mas, aprendi que na paz existe o verdadeiro pendor... e minha outra asa
vive por ai, arranja-se bem e sabe voar e como sei que o céu não é meu destino
eu agradeço o dragão e agradeço o guerreiro menino...
Hoje quero apenas respirar e tocar o prana...
ouvir uma melodia, fazer-me estrela, escalar o Himalaia... quero Sentir o Nirvana!
Não mais um idílio do passado, abandonei estes trapos rasgados para a graça de uma nova veste...Eu quero o silêncio e a calma do topo do Everest



Judá 
 
Aceito o que me envias mesmo que não seja claro e em bom termo
Sei que nos conhecemos de outros tempos e respeito
Sou o condutor por onde escorre o que a cidade lança. É meu trabalho.
 
Hoje não peço mais que me compreendam, as pessoas em volta;
Convivo com a missão mais abjeta, e assim mesmo me amo
Como explicar que tudo que faço é preciso é necessário?
 
Não desejo que me compreenda porque o correto é a raiva
É a raiva meu instrumento de transformar as eras, sou hábil nesta causa
Como dizer que mesmo entre os anjos há que haver os demônios?
Uma escolha para quem não é completo, não tem tantas asas.
 
Sou assim, um ser incompleto, por isso as tantas faces, as tantas mudanças
Mas sei onde vou, mesmo que para tanto precise pisar ou arrojar a cauda
Ora sou dragão e guardo, velo com esmero, mas o fogo vem a qualquer momento
Noutras sou leão urro para espantar as feras, mas como homem sou muito, muito falho.
 
 
Luna

O que seria do caridoso sem o que precisa da caridade
é assim que evoluímos nessa dimensão...
através desta divisão...
Por isso, espero que aceite, de ti não tenho magoa
e compreendo a dor de eras tantas, e o peso de não ter asas santas...

E foi por isso que a rosa nasceu com espinho
e foi por isso que a vida nasce com a dor
e é por isso que há pedras no caminho...

Compreendo tua lida e tua necessidade existencial
somos peças de um grande quebra cabeça
e assim cada qual em seu lugar é encaixe...

Sei que reservas guardas ao meu respeito
mas compreenda que compreendo
e reconheço a importância de teu feito!

Anjos e demônios são necessários
Um não existe sem o outro
pois aqui somos forjado na escolha  de um lado

 
Judá

Sim. Pressuposto; sigo pela estrada contrária, sim, contrariado.
Existe um novelo que está sempre sendo desenrolado,
Estamos nele dependurados, com escolhas de lado, nunca certas.
 
Porque a certeza é vária, não é a mesma para todos por isso tantos lados
Mas vou-me sem mesuras porque não sei se sabe, mas estou cansado
Mas saiba, como um braseiro eterno, sou alimentado, mesmo não querendo.
 
Tenho o livro que releio dia a dia, um castigo, as cenas vivas eu relembro
As vezes leio minhas historias noutras leio as historias dos outros
Mas não é de minha decisão fechar este livro, a leitura sou forçado.
Sou tido por louco e por mau caráter, tudo isso eu ouço e vejo e me calo.
 
Paciência amiga, paciência porque ainda tenho rabo, tanto de dragão quanto de leão.
E uma asa quebrada, melhor dizendo atrofiada, que me rasga as costas o tempo todo.
Sou sim um homem mau, e vivo sorvendo os licores das mulheres más, é um vício
Mas sei que tudo acaba, acaba o mel e o fel, acaba o homem e a mulher e seremos apenas luz e som.
 
Parte II

Luna

O dragão retirou-se para a guarda de sua função
deixei a espada, elo de um antigo amor, na guarda do universo
para onde parto agora tendo por companhia minha poesia
e um mundo inteiro em incompreensíveis versos?

Parto para lua?
Mas eu sou a lua, pálida iluminando a escura rua
Começo pelo mar e espero o sol nascer?
Caminho nos cuidados do destino?

Encontrar-te é predito... E me disse um cavaleiro
“ seguirás me amando, caso diga que não fico?”
Quem és tu que move-se com as águas
que me eleva até o pico da águia
que me reteve em calma em tuas retinas?



O Sacerdote

Sempre vem o vento do norte como tu?

Muitas perguntas para satisfazer sua mente tempestuosa?
Mas diga antes ao que vem, porque pousaste ao meu lado?
 
Antes de responder a ti, desejo que me mostre quem sois
Dando-me uma mostra de tua original forma, tens tantos
Sois a mãe? A filha? Sois a noite?
Ou sois a mulher misteriosa?
 
Ouço tua doce voz entrecortada, por gemidos e por gritos alhures
Vejo tua silhueta se movendo por entre a multidão e sois muitas
Em uma te vejo com olhos pedintes e em outra vejo tuas mãos postas
Mas vejo-te em brados na praça espicaçando os homens ricos
E vejo que cantas à beira do rio para que os seres da água se acalmem.


Luna

Sim, por vezes sou muitas, diante de todos, sou todas
Mas, não sei responder-te, pois diante tu fui o nada
não o nada vazio e lânguido, eu fui um eu desconhecido
uma vestimenta, talvez um nu, que não tenha vestido...

Tão misterioso és tu e no manto deste segredo
não sei dizer o que me trouxe...
A lua não pode dizer ao que veio...
pois não sei... Assim quis o destino
assim me disse o coração
quando ouvi dos altos uma canção
Quando vi tua face conhecida
Sim, sou muitas, mas diante ti fui uma...

Quem?

 
Trago historias do quente deserto e das terras geladas
Historias de reis e rainhas, de vilões e pobres mocinhas...
Trago um baralho aberto, que por ser oculto, poucos podem ver...
Trago os elementos e os sentidos
a cura ao espírito decaído...Sou lótus a renascer...
Maktub...
haverá tempo para nutrir-te do leite de gayatri
haverá o tempo do ser para sentir...
Aqui ou onde já estamos à muito tempo juntos a existir...

O sacerdote


Trouxeste-me presentes como faziam as rainhas
Mas não havia em tua arca, joias de outro ou prata
Havia sim, muitos versos, belos comoventes, me encantaram.
 
Tua presença me fez bem, como se enviada dos deuses
Na partida fiquei cismando, quem era a mulher tão familiar
Que me deixou entretido como um menino esquecido do compromisso?
 
Então me conta mais de ti, fala sobre teus amores
Quero conhecer o mundo onde habita a poetisa em formosura
Depois falarei de mim, porque agora careço ser nutrido
De versos e rimas; destas que fazes, mulher Neith.
 
Espero que possas se revelar a mim humilde pessoa
E que eu possa compreender essa missão renovadora
Por enquanto saiba que de tantas visitas que tenho
Me cativei de tua postura, calma, harmoniosa, segura




 
Noah Aaron Thoreserc e Maria de Fatima
Enviado por Noah Aaron Thoreserc em 13/04/2014
Reeditado em 14/04/2014
Código do texto: T4767682
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