Se eu fosse dono de mim

(diálogo de introspecção)

ELE — Se eu fosse dono de mim

Não me pergunte por quê

É bem capaz que eu me desse

Ou me emprestasse a você!

ELA — Se eu fosse dona de mim

Rodaria o vasto mundo

Pra conhecer as belezas

Que enfeitam a natureza

Tão longe, às vezes, de mim.

ELE — Ah! sendo eu dono de mim

Quanta coisa me faria!

Possivelmente um poema

Repleto de fantasia

E cada verso ou estrofe

Como um contrato de posse

Se eu fosse o dono de mim...

ELA — E eu?... Sabe o que me ocorre

Se eu fosse dona de mim?

Eu estaria "curtindo"

Possivelmente vibrando

Ou simplesmente tentando

Aprender novos caminhos

Pra que de repente eu quando

Estiver quase cansando

Volte pra dentro de mim...

ELE — Se eu fosse o meu próprio dono

De fato me possuísse

É bem capaz que depressa

Eu também me dividisse:

Uma fração do meu corpo

Daria pra quem pedisse;

Uma fração dos meus sonhos

Pra quem eu não possuísse;

Uma fração do meu ódio

Pra quem não o permitisse;

Uma fração do meu verso

Pro verso que eu nunca disse

E de fração em fração

Talvez eu me possuísse.

ELA — Se eu mandasse em meu destino...

Ah! se eu tivesse esse dom...

Se dependesse de mim...

Voltava a fita da vida.

Ora ida, vinda: vida!

Refazendo o que já fiz...

ELE — E eu? se eu também pudesse

Nem me pergunte por quê

É bem capaz que eu me desse

Todo de novo a você!

Embu das Artes-SP, 8/3/1995 (mais de 2 da madrugada)

Um poema a quatro mãos

Éver e Izilda (Ísis Rígoh)