Dueto de Lamentações
“Enquanto la fora é quente e ardente, aqui dentro a neve cai, e é tão fria quanto aquilo que bate dentro de mim. Tão farta de vazios, que contradiz os desejos ocultos, almejando por algo que me faça respirar fora de ritmo. Tão segura e escorregadia, me confundo dentro do meu mundo estranho e abstrato. Passos que ficaram gravados no solo, desejos de retornar para encontrar o que se perdeu, sonhos emergem de espaços impermeáveis, enfatizando o grande espaço interior, com ecos de dores suavizadas.”
“Assim sendo minha alma sombria, de cor cinza e nublada, se abstém dos desejos mais sórdidos na vontade de um amor esquecido que já não sei onde reencontrar. Ter por perto o leve sopro do sorriso do amor que se foi, da paz desperdiçada, da lembrança furtiva que roubou meus pensamentos, de algo que tive e já não existe mais. Como os dias passam lentamente num triste viver dos dias em vão.”
“Conduzida por ondas invisíveis, meus olhos não contemplam as doces realidades que me cercam, pois meu coração foi petrificado pelas tempestades que o tempo trouxe. Perdida no rio, a imagem refletida nas águas é de uma face inerte e inexpressiva, como estátuas abandonadas entre os séculos. Enxergam apenas a escuridão do mundo, como um contraste obscuro e monótono.”
"Como uma águia sedenta no meio do Saara, desesperada e ofegante, com seu coração sangrento e cravado com mil adagas que o fazem despertar no rio das lágrimas tão salgadas de sofrimento. Buscando apenas sossego e um colo para descansar, no entanto se distraindo entre as miragens dos Oasis que desaparecem num piscar de olhos. Encontrou pó e desilusão, de boca seca e de olhos áridos, restando apenas uma fagulha no coração."