EU TENHO MEDO! - E eu também!... 
Sonia R. e Evaldo





Eu tenho medo de ruídos estranhos

eu do silêncio nessa longa distância;

de sirenes na noite que acordam sonhos,

e eu sinto um medo diferente, dos sonhos que acordam

a tristeza;

de relâmpagos acendendo nuvens,

eu das nuvens apagando o clarão;

de palavras soltas, de apelos inúteis,

e eu, de querer dizer que amo, sem poder emitir  o som.

Tenho medo das miragens,

e eu da realidade, que machuca tanto;

das sombras que o sol estira no final do dia,

eu do objeto opaco que a luz não atravessa, 

mas deixa sombra
;

depois de um tanto e incontido brilhar,

medo que o brilho se apague ao final do sonho.

Tenho medo das temperaturas imprevistas,

e eu, que aqueçam o corpo, mas esfriem a alma;

das rinhas e das inconstâncias,

e eu dos ataques sem defesa;

e do jeito, tão meu, de buscar telhas partidas,

e eu, de um abrigo com frias goteiras;

nos tetos altos das quimeras,

o que se pode buscar?

só por uma nesga de céu,

e assim o Céu é o nosso limite.


Sonia R.
Evaldo da Veiga.




*"O que me descontrai, por incrível que pareça, é pintar. Sem ser pintora de forma alguma, e sem aprender nenhuma técnica. Pinto tão mal que dá gosto e não mostro meus, entre aspas, quadros, a ninguém. É relaxante e ao mesmo tempo excitante mexer com cores e formas sem compromisso com coisa alguma. É a coisa mais pura que faço (...) Acho que o processo criador de um pintor e do escritor são da mesma fonte. O texto deve se exprimir através de imagens e as imagens são feitas de luz, cores, figuras, perspectivas, volumes, sensações." - Clarice Lispector





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