A Esperança na Timidez (Dueto com Cecília Meireles)
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Os versos entre aspas são de Cecília Meireles “Timidez”.
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"Basta-me um pequeno gesto,
feito de longe e de leve,
para que venhas comigo
e eu para sempre te leve...
— mas só esse eu não farei."
Então aceite minhas palavras,
Feitas de água e de fogo,
Para estar contigo
Livrai-me de ser demagogo...
- Diga-me então...
"Uma palavra caída
das montanhas dos instantes
desmancha todos os mares
e une as terras mais distantes...
— palavra que não direi."
Então aceito teu desafio,
Mesmo longe da vitória
Balanço a árvore da vida
E atinjo a raiz da memória.
- Lembro-me do seu silêncio.
"Para que tu me adivinhes,
entre os ventos taciturnos,
apago meus pensamentos,
ponho vestidos noturnos,
— que amargamente inventei."
Eu admito: não consigo te decifrar,
Mas afirmo: senti teu perfume no vento,
E lembrei dos seus vestidos noturnos,
Da sua sedução... Seu talento...
- Mas a perdi...
"E, enquanto não me descobres,
os mundos vão navegando
nos ares certos do tempo,
até não se sabe quando...
— e um dia me acabarei."
Mas eu não desistirei,
Pois seu perfume foi te revelando,
Nos ares certos do tempo,
Até na morte... Perpetuando...
- E até mesmo lá... Eu a encontrarei...