LÁGRIMAS OCULTAS



Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...

E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!

E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...

E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!


Florbela Espanca

 

 

São lágrimas ocultas... dor sincera...

Deslisam sobre esta alma ferida...

Limpando a minha vida tão sofrida!

Gotas d' orvalho em plena primavera...

 

São tormentos dum porvir, tal quimera...

Contida e' mim, tempestade da vida...

De quem fora por alguém esquecida!

Lágrimas derramadas, dor tempera!

 

Não chorarei mais... nem lágrimas... nem dores!

Eu quero só um lindo buquê d' flores,

Que amanse essa minha tola fera!

 

Eu quero ser essa mulher que espera...

Ser doce, tão suave... sem cratera!

E que não chora por tais desamores!

 

 

 

 

© SOL Figueiredo

15/01/2013 – 22:55h

SOL Figueiredo e Florbela Espanca
Enviado por SOL Figueiredo em 16/01/2013
Reeditado em 16/01/2013
Código do texto: T4087111
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