TORTURA


Tirar dentro do peito a Emoção,
A lúcida Verdade, o Sentimento!
-- E ser, depois de vir do coração,
Um punhado de cinza esparso ao vento!...

Sonhar um verso de alto pensamento,
E puro como um ritmo de oração!
-- E ser, depois de vir do coração,
O pó, o nada, o sonho dum momento...

São assim ocos, rudes, os meus versos:
Rimas perdidas, vendavais dispersos,
Com que eu iludo os outros, com que minto!

Quem me dera encontrar o verso puro,
O verso altivo e forte, estranho e duro,
Que dissesse, a chorar, isto que sinto!!

Florbela Espanca

 

 

 

 

Tortura, só poder, então, olhar-te...

Pungir o teu calor em pensamento...

Tontura, voar sem asas, sentimento...

Um fluir de emoções... Eu vou amar-te!

 

Te amar assim plenamente, beijar-te...

Com ternura, sentir e' mim... (até tento!)

Suave, sou ave plainando ao vento...

Loucura, fugir e por fim... deixar-te!

 

Tortura, acordar sem nem ver-te ao lado...

Sem a doçura desses beijos teus...

Perder-se em partidas, nenhum adeus!

 

Ventura, desejar ter um amado!

Ter horizonte sem fim... sonhos meus...

Suspiros d'um amor apaixonado!

 

© SOL Figueiredo

15/01/2013 – 18h

SOL Figueiredo e Florbela Espanca
Enviado por SOL Figueiredo em 15/01/2013
Reeditado em 18/04/2013
Código do texto: T4086588
Classificação de conteúdo: seguro
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