CARMEM!
(DUETO ANDRADE JORGE E CARMEM LUCIA
De forma sinuosa
feito cobra, desliza,
separa fronteira
e nem se dá conta disso...
Segue seu rumo,
levando em suas águas,
doces feitos de cana,
e o cheiro ardido
das pimentas ali plantadas!
(Carmem Lucia)
E a menina extasiada olhava
o leito desse largo rio,
ora raso,
ora fundo,
nesse diário deslizar
sem prazo,
sem hora pra chegar,
e na espuma amarelada
segue a deriva em seu dorso
muitos sonhos, ilusões, perdidos amores,
prazeres, desilusões, dores,
saudade sofrida,
silente corso.....
mas acima de tudo, levando vida!
(Andrade Jorge)
A menina cresceu,
E um dia
Precisou partir,
Em sua mala pedaços
De sonhos,
Catados à beira-rio;
Em sua estrada
Cortada pela vida,
Outra água viu,
Mas nenhuma, nenhuma
A fez esquecer
Aquele que um dia
A viu crescer!
(Carmem Lucia)
Hoje entre os odores
De pimenta e pão-de-queijo,
Cheiro da terra dos amores,
Já deixou de ser
O perfume de outrora,
Agora
É cheiro de desejo;
Lá ficou o rio
Contando os dias, velha sina,
Suas águas vertem choro
De saudades da menina
Que nunca mais viu....
(Andrade Jorge)
ANDRADE JORGE E CARMEM LUCIA
Nota dos Autores: O rio citado na poesia é o Rio Paranaíba que divide Goiás e Minas Gerais. Pão-de-queijo e plantação de pimenta são típicos da região Centro-Oeste onde a poetisa Carmem Lucia reside.