Água poetável
Água poetável
Dessa Água...
Quando bebemos, a sede demora a voltar...
O amanhecer nos devolve do dia à luz
E se acumulam caminhos, em outros caminhos
Que quase me perco entre eles.
Água, preciso d'água!
Tenho sede de viver tudo...
Roupas no varal, esturricada...
Bica no quintal...seca...
E a imensidão que nos separa sem distância
Na ânsia enlouquecida de viver cada instante
Como se fora o último.
O tempo não volta
Feito candieiro, depois de apagado
Feito trago no último cigarro
Feito caminho perpetuado
No escuro das nuvens, nas curvas do amanhecer...
Pássaros fazem ninhos em árvores
Com olhos esbugalhados,
Com medo de predador.
O sol encandeia tímidas estrelas
Pulsando por anos luz
Tudo em versos me seduz...
Escrito com Pena d'oiro num mar casto
Em sal, batendo nas rochas alucinado
Contra os clarões dos relâmpagos na areia,
O tridente de Netuno
Nas ribanceiras do mar...
Nascente da luz!...A mente florida pelo sumo da Ayahuasca
Liana na beleza dos versos divino
E um sonho barroco se mistura ao épico
E nas borboletas que pasmaram
Em outros olhos-tetas de loba
Singrando em outros olhos-boca...
Ousadia ou outros tantos bocados de palavras
Silenciando a poesia.
Que queres de mim? Ó Virgem do Calvário!
Sou sepulcro e sepultado em versos...
Quero o universo, nesse encontro, tonto de desejo!
Nesse encontro insólito, mais uma vez
Cortamos os pulsos e o sangue da poesia
Penetra pulsando em nossas artérias e veias
Para que sejamos um só em versos.
E quando nossos restos forem exumados
Seremos teia
Nunca aranha...
Fomos tecido fio a fio
Pelo desejo da palavra
Num verso de olhar mudo
Que nada diz, mas tudo sente.
Tony Bahia & Francisco Cavalcante.