Nas horas de tristeza e de “rebeldia”...
Quando o sol bate a minha porta e o meu coração não se inquieta;
é hora de declamar: “Vou-me Embora pra Pasárgada”
“... Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
[...]
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansada
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menina
Tô vinha me contar
[...]
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amiga do rei
Lá tenho o homem que eu quero
Na cama que escolherei...”
Este poema do Manuel Bandeira me acompanha a várias décadas. E “Vou-me Embora pra Pasárgada”, assim como foi para Manuel Bandeira, dentro de outro contexto, tem sido minhas palavras quando me faço muda, nas horas de tristeza e de “rebeldia”...
*Tô – Minha bisavó. Foi minha contadora de histórias.
Edna Maria Pessoa
Natal-RN, sexta-feira, 06 de julho de 2012.
Vou-me Embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Lá sou amigo do rei
Lá tenho a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada
Vou-me embora pra Pasárgada
Aqui eu não sou feliz
Lá a existência é uma aventura
De tal modo inconsequente
Que Joana a Louca de Espanha
Rainha e falsa demente
Vêm a ser contraparente
Da nora que nunca tive
E como farei ginástica
Andarei de bicicleta
Montarei em burro brabo
Subirei no pau-de-sebo
Tomarei banhos de mar!
E quando estiver cansado
Deito na beira do rio
Mando chamar a mãe-d'água
Pra me contar as histórias
Que no tempo de eu menino
Rosa vinha me contar
Vou-me embora pra Pasárgada
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar
E quando eu estiver mais triste
Mas triste de não ter jeito
Quando de noite me der
Vontade de me matar
— Lá sou amigo do rei —
Terei a mulher que eu quero
Na cama que escolherei
Vou-me embora pra Pasárgada.
Manuel Bandeira – Livro Libertinagem, 1930.