Lamúrias do Cais
Se o tempo não limitasse meus passos seguir-te-ia até a eternidade
Porém minha ínfima condição transitória condena-me a um ciclo,
Onde toda a vida perece na sombra da agonia e o amor se torna o único destino seguido
Pela trágica incerteza que atormenta a esperança de um amor que escorre pelos dedos.
Que, no entanto nunca poderá ser por nós dois, concebido.
Nessas horas de prazer frio eu escureço, pois não sinto o gosto do vinho que no cálice me oferece.
Ah... São tantos os temores que tua ausência traz que respirar dói-me o peito
E nesta hora tudo o que há de vivo em minha mente desfalece
O sangue foge-me das veias e como fumaça os sonhos desvanecem pelo ar
A dor lancinante tortura meu peito e mesmo padecendo de agônico sentimento
Não desisto, persisto, pois só eu sei o quão importante é te amar.
E nas noites de solidão crua, na minha janela o pássaro da infelicidade arrulha,
Para lembrar que você em seus ternos braços nunca me envolverá.
Sinto nos olhos uma coisa fria, e ave me bica insana.
O amor é coisa bela, e quando desfalece na dor, de nada adianta chorar na solidão,
Mergulhar no seu enleio doentio e sentir na distância em leves ventos teu aroma chegar a mim,
A saudade de tua face toma todo o meu pensar, de nada adianta estas lembranças,
São meras ilusões de criança teu abraço macio almejar.
Oh ilusão que te encontras incrustada no fundo do meu peito, fazeis a mim um favor.
A ti peço não por vaidade, te condóis deste moribundo, mantendo-me mais uns dias,
Se as ondas deste mar bravio que chacoalham o navio onde deito, á deriva fez-me perder,
Agora te peço sem jeito, traga minha amada a meu leito para que em paz eu possa morrer.
Ah, dama de preto, já te vejo chegar. Mas espere não me leve, espere o meu amor voltar.
Deixe o doce beijo dela se misturar ao seu amargo. Permita que ela tire com seus lábios a minha vida.
E eu, como numa utopia crucial, abraçá-la irei com candura no momento final.