Lamúrias do cais
 
Se o tempo não limitasse meus passos seguir-te-ia até a eternidade,
Porém minha ínfima condição transitória condena-me a um ciclo,
Onde toda a vida perece na sombra da agonia e o amor se torna o único destino, seguido
Pela trágica incerteza que atormenta-nos e a esperança de um amor que escorre pelos dedos e
Que, no entanto nunca poderá ser por nós dois, concebido.
 
Nessas horas de prazer frio eu escureço, pois não sinto o gosto do vinho que no cálice me oferece.
Ah... São tantos os temores que tua ausência traz que respirar dói-me o peito
 
E nesta hora tudo o que há de vivo em minha mente desfalece,
 
O sangue foge-me das veias e como fumaça os sonhos desvanecem pelo ar,
 
 
A dor lancinante tortura meu peito e mesmo padecendo de agônico sentimento
 
Não desisto, persisto, pois só eu sei o quão importante é te amar.
 
E nas noites de solidão crua, na minha janela o pássaro da infelicidade arrulha,
 
Para lembrar que você em seus ternos braços nunca me envolverá.
 
Sinto nos olhos uma coisa fria, e a ave me bica insana.
 

O amor é coisa bela e quando desfalece na dor, de nada adianta chorar na solidão,
 
Mergulhar no seu enleio doentio e sentir na distância em leves ventos teu aroma chegar a mim,
 
A saudade de tua face toma todo o meu pensar, de nada adianta estas lembranças,
 
São meras ilusões de criança teu abraço macio almejar.
 
 
Oh! ilusão que te encontras incrustada no fundo do meu peito, fazeis a mim um favor.
 
A ti peço não por vaidade, te condóis deste moribundo, mantendo-me mais uns dias...
 
Se as ondas deste mar bravio que chacoalham o navio onde deito, á deriva fez-me perder,
 
Agora te peço sem jeito, traga minha amada a meu leito para que em paz eu possa morrer.
 
 
Ah! Dama de preto, já a vejo chegar. Mas espere não me leve, espere o meu amor voltar.

Deixe o doce beijo dela se misturar ao seu amargo. Permita que ela tire com seus lábios a minha vida.

E eu, como numa utopia crucial, abraça-la irei com candura no momento final.
LAMÚRIAS DO CAIS
 
Crédito pelas imagens:https://www.facebook.com/ayamubrais

Ayam Ubráis Barco.
Roberto Codax e Elaine Rocha
Enviado por Roberto Codax em 16/04/2012
Reeditado em 07/05/2012
Código do texto: T3616347
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