A INTIMIDADE DO TEMPO
Os dias passam entre meus dedos indiferentes ao calendário,
e diante de tudo que cheira a futuro vejo o tempo mudo
encostado na umidade antiga de um muro.
Mas não confundo os dias
com o crédito da vida no banco do tempo
ou com a esmola dada à sola solta na estrada.
O tempo parece página em branco implorando redação
e não sei se minha escrita tem o aval dos ventos editores.
Não posso me queixar dos dias sem carimbo do Olimpo
porque eu mesmo falsifiquei serenos
com rosas de choro sem botão aberto ao pranto da noite.
Também não me queixo do tempo;
se ele me aprisiona no coma induzido de seus muros
eu o acorrento na memória
escrevendo minha história em suas costas de pedra...
(MAURICIO C. BATISTA)(IN MEMORIUM)
As noites passam entre pensamentos e desejos
com a mesma ansiedade que outrora me arrebatava,
mas não com a presença física do prazer,
e sim com a esperança eterna de reviver.
Não lamento o açoite da noite,
só receio que ela me aprisione em seu leito
e revele a solidão mascarada do verso.
O tempo traz as lembranças carimbadas
com o registro documentado da realidade cega
que encobre a alegria e elege a tristeza.
Não me queixo das noites estreladas sem brilho,
pois permaneço ancorada sem rumo
em um porto inseguro de recordações.
Também não me queixo do tempo
porque sem ele a história da vida
passaria em branco sem desenhar sua trajetória...
(ESTRELA BRILHANTE)