Por Que Escreves, Doutor?
Por que escreves tanto, doutor,
Se teu ofício é aliviar a dor
Dos padecentes?
Se é uma quimera a tua profissão,
E mesmo assim cultivas tanto esta ilusão,
Que às vezes te sentes tão superior
Aos pacientes?
Por que escreves tanto, ó charlatão
Se a ti foi dada outra função
Tão diferente?
Se tua sina é enganar doentes
Perpetrando furto aos mais carentes
E a todos tapear
Prometendo uma cura que não há?
Por que escreves tanto, ó curandeiro?
Seria por sadismo ou por dinheiro,
Que tu escutas dos enfermos os ais,
Consolando falsamente aflitos pais
Com esta disfarçada hipocrisia,
Com a tua insensível alma fria?
O que tu queres mais?
Escrevo para abafar o pranto;
Escrevo para afugentar o espanto,
Para fazer de conta que não vejo
O espelho a refletir meu desespero;
Para fugir da angústia que me traz
O "corvo de Poe", o "Nunca Mais"
A grasnar todo tempo em meus umbrais.
Escrevo para iludir este tormento;
Escrevo pra suportar o sofrimento
Que é viver eternamente a escutar
O gemido de todos nós representado
Em cada paciente de quem estou ao lado
(Sendo impotente a fim de evitar),
Até chegar a hora do último suspirar.
Escrevo apenas para me manter ativo,
Para espantar o ócio, o vício, o falso alívio;
Escrevo para escapar da condição humana,
Pra sufocar no peito a dor tirana
Que me angustia e me atormenta.
Escrevo para encontrar um lenitivo;
Escrevo, enfim, porque sem escrever não vivo!
Raymundo Silveira
***
Poeta e Doutor
Escolheste o caminho do amor
Escolheste transcender
A humilde condição de ser
Compassivo ao ajudar
Teu irmão a suportar
A desdita de sofrer
Escolheste não desviar
Da morte o doído olhar
E fazê-lo sem deixar
Tua alma se embotar
Vais mais além no sentir
Vais mais além no saber
ser
Poeta e Doutor!
Maria Petronilho
Por que escreves tanto, doutor,
Se teu ofício é aliviar a dor
Dos padecentes?
Se é uma quimera a tua profissão,
E mesmo assim cultivas tanto esta ilusão,
Que às vezes te sentes tão superior
Aos pacientes?
Por que escreves tanto, ó charlatão
Se a ti foi dada outra função
Tão diferente?
Se tua sina é enganar doentes
Perpetrando furto aos mais carentes
E a todos tapear
Prometendo uma cura que não há?
Por que escreves tanto, ó curandeiro?
Seria por sadismo ou por dinheiro,
Que tu escutas dos enfermos os ais,
Consolando falsamente aflitos pais
Com esta disfarçada hipocrisia,
Com a tua insensível alma fria?
O que tu queres mais?
Escrevo para abafar o pranto;
Escrevo para afugentar o espanto,
Para fazer de conta que não vejo
O espelho a refletir meu desespero;
Para fugir da angústia que me traz
O "corvo de Poe", o "Nunca Mais"
A grasnar todo tempo em meus umbrais.
Escrevo para iludir este tormento;
Escrevo pra suportar o sofrimento
Que é viver eternamente a escutar
O gemido de todos nós representado
Em cada paciente de quem estou ao lado
(Sendo impotente a fim de evitar),
Até chegar a hora do último suspirar.
Escrevo apenas para me manter ativo,
Para espantar o ócio, o vício, o falso alívio;
Escrevo para escapar da condição humana,
Pra sufocar no peito a dor tirana
Que me angustia e me atormenta.
Escrevo para encontrar um lenitivo;
Escrevo, enfim, porque sem escrever não vivo!
Raymundo Silveira
***
Poeta e Doutor
Escolheste o caminho do amor
Escolheste transcender
A humilde condição de ser
Compassivo ao ajudar
Teu irmão a suportar
A desdita de sofrer
Escolheste não desviar
Da morte o doído olhar
E fazê-lo sem deixar
Tua alma se embotar
Vais mais além no sentir
Vais mais além no saber
ser
Poeta e Doutor!
Maria Petronilho