A MIM TAMBÉM NÃO ME IMPORTAM...
Guida Linhares
Os grandes rios são misteriosos
guardando em suas profundezas
mistérios inexplicáveis.
Suportam o vai e vem das embarcações,
porém escondem mil perigos
invisíveis aos nossos olhos.
Não se consegue enxergar o fundo,
a não ser para os mergulhadores,
acostumados à exploração.
Talvez porisso os pequenos rios,
exerçam tanto fascínio,
em seus bucólicos serpenteados.
Os grandes rios são como o universo,
poderoso e inescrutável.
Os pequenos rios são como nós,
por vezes transparentes,
às vezes cascatas cintilantes.
Podem desviar-se das pedras
ou até mesmo ficarem poluidos
pelos progressivos despejos
da inconsciência.
Porém, da sua nascente cristalina,
fonte perene do amor,
brotam as águas dançarinas,
serpenteando por entre as pedras,
cascateando entre as flores,
na magia exuberante da vida.
Vida que trazemos em nós,
para ser vivida em plenitude,
assim como as águas do rio
crescem com a chuva benfazeja,
e correm alegremente,
para abraçar o mar.
Também nós, filhos da Terra
corremos em busca do abraço,
através da amizade que brota,
serpenteando por entre os corações,
cascateando entre sonhos,
na arte de viver e conviver.
Mesmo que tenhamos sido órfãos,
em algum momento do passado,
compartilhemos de nossas vivências ,
num entrelaçamento amigável,
jogando pedrinhas brilhantes,
nas tépidas aguas do rio da existência.
Santos/SP/Brasil
26/11/06
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Dueto em resposta ao poema:
QUE ME IMPORTAM OS GRANDES RIOS?
J. Martin
O Danúbio, o Nilo, o Amazonas.
Se no parque, quando chove,
Também correm rios.
Tão pequenos e efêmeros
Que nem nome eles têm:
Para que precisam nome?
Pequenos riachos que a chuva cria,
Com seus afluentes e suas cachoeiras.
Pequenos e efêmeros passam
aos meus pés,
Depois da chuvarada,
Quando chove pouco e passeio sozinho,
Seguindo seu curso sem outra intenção
Quero ver no seu leito a água correr.
Por vezes transbordam: como eu gosto disso...!
Inundam tudo e formam lagos.
E finalmente eles caem em vertiginosa cascata
Pra dentro dum esgoto.
Solitariamente eu ando,
Sentindo a fragrância da terra molhada,
E relembro que em menino eu brincava,
Fazendo barragens e diques naqueles
improvisados rios.
Abria e fechava as comportas
Com alguma tábua achada por lá;
E então eu não brincava sozinho.
Mas agora quem é que vai
Querer brincar comigo?
Alguns dirão que vai sujar o terno,
Outros pensarão que isso é uma tolice,
E eu mesmo sentiria vergonha
De que alguém me visse lá,
A construir um dique de tábuas e barro.
Mas talvez todos,
Sozinhos, um por um,
Gostássemos de mexer novamente
No barro e na água
Do rio que a chuva cria,
E atirar pedrinhas lisas
Ao lago formado no canal entupido,
Para ver como é que elas pulam
Sobre a tona da água
E como, afinal, mergulham.
E a chuva cai, como antes caía;
E os rios são os mesmos
E o parque também.
Porém eu já não sou o mesmo.
Apenas sou agora um pobre órfão
De jogo e inconsciência,
Que se conforma em relembrar sozinho,
Ficar triste a sós,
E ver passar a vida, vã e inútil,
Desde a solitária beira.
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¿QUÉ ME IMPORTAN
A MÍ LOS GRANDES RÍOS?
J. Martin
¿Qué me importan a mí los grandes ríos?:
el Danubio, el Nilo, el Amazonas...
Si en el parque, cuando llueve,
también corren ríos.
Tan pequeños y efímeros
que ni nombre tienen:
¿para qué necesitan nombre?
Pequeños arroyos que la lluvia crea,
con sus afluentes y sus cataratas.
Pequeños y efímeros pasan a mis pies,
después del aguacero,
cuando llueve poco y paseo solo,
siguiendo su curso sin más interés
que ver por su cauce el agua correr.
A veces se desbordan: ¡cómo me gusta...!
Lo inundan todo y forman lagos,
y al final caen en vertiginosa cascada
hacia el interior de una alcantarilla.
Solitariamente camino oliendo a tierra mojada,
y recuerdo que de niño jugaba,
haciendo presas y diques en aquellos
improvisados ríos.
Abría y cerraba las compuertas
con una tabla encontrada por ahí;
y entonces no jugaba solo.
Pero ahora, a mi edad,
¿quién se pondrá a jugar conmigo?
Algunos dirán que se manchan el traje,
a otros les parecerá una tontería,
y a mí mismo me daría vergüenza
que me viesen construyendo
una presa de barro y tablas.
Aunque puede que a todos,
solos, uno a uno,
nos gustase meter de nuevo
las manos en el barro y en el agua
del río que la lluvia crea.
Y tirar piedrecitas planas
al lago formado en el desagüe atascado,
para ver como saltan
sobre la superficie del agua
y, cómo, al final, se hunden.
Y la lluvia cae, como antes caía;
y los ríos son los mismos
y el parque también.
Sin embargo yo no soy el mismo.
Apenas soy ahora un pobre
huérfano de juego e inconsciencia,
que se conforma con recordar solo,
con estar triste a solas,
con ver pasar la vida, vana e inútil,
desde la solitaria orilla…
© J. Martín
Madrid Espanha
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