O SÓTÃO - José Geraldo Martinez & Maria Luiza Bonini

O SÓTÃO!

José Geraldo Martinez

Na casa havia um sótão,

que guardava meus cowboys!

Quando deles me cansava,

chamava meus super-heróis...

Lá fazia meu teatro,

nas tardes daquele tempo.

Os fantasmas daquele sótão,

assistiam-me em silêncio!

No piso inferior, passadas da

minha avó, no velho assoalho do casarão...

Conhecia o barulho de cada pé!

Prendada que ela só, chamava-me

para o café!

Bolo de fubá e rosquinhas,

queijo fresco com goiabada!

Pão caseiro e tortinhas,

café com leite e torradas!

Uma cesta com carambolas

que quase nunca eu comia...

Laranjas e abacates.

Bananas? Todos os dias!

Voltava para meu sótão,

afinal, não podia um xerife,

ainda num dia de céu azul,

deixar circular Pancho Vila,

sem prendê-lo em minhas grades

improvisadas de bambu!

O Sargento Garcia era meu pai.

Aliás, era até parecido!

Vivia sizudo em sua lida e nem

se importava comigo...

Lá, eu fazia meus teatros,

escondia meus boletins!

Representava qualquer ato

da infância que passava por mim...

Lá, dei meu primeiro beijo

feito àqueles que via nas novelas!

Lá, fiquei noivo num domingo com

a linda Cinderela...

Lá, estive no baile da Gata Borralheira

e deixei guardado num cantinho...

para um dia novamente em meus

sonhos, devolver seus sapatinhos!

O meu sótão parecia um portal

para todos os meus sonhos da infância.

Fechei suas portas um dia,

quando sem ver eu cresci...

Imagino que lá deixei Julieta morta

e eu, Romeu, também morri!

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NOSSO SÓTÃO !

Maria Luiza Bonini

Vá devagarinho e abra o sótão

Lá encontrarás duas crianças

Nascidas de nossa paixão

Frutos do perfeito amor

Não são filhos... nós mesmos é que lá estão

Nossa morte não se concretiza

como nos teus sonhos de criança

O veneno que tomamos era elixir da vida

com ele mantivemos viva aquela chama

Conservamos o amor em um sacrário

Intangível por incompreensíveis humanos

Sagrado como um santo sudário

No tão esperado beijo sonhado

Do sono " in eterno" despertamos

Voltamos ao sótão - ato consumado

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sp.24.05.08

"Coincidência é apenas mais um apelido de Deus"

Maria Luiza Bonini

Maria Luiza Bonini
Enviado por Maria Luiza Bonini em 20/05/2011
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