CHAVE DE UM POEMA

Perdi a chave da porta,

não sei onde a deixei.

Deve ter ficado em algum arado

quando eu revirava temporais

numa arqueologia de bonanças

ou com alguma criança que me pediu pipoca.

Em casa todos dormem o sono dos justos

e por justiça não farei barulho

com o entulho dissonante da campainha

ou arrombando a caixa preta

da minha ficção quase científica.

Todos dormem…

Fico ao relento sem a chave da porta.

Estou livre;

posso escrever o poema…

(MAURICIO C. BATISTA) (IN MEMORIUM)

Achei a chave da porta,

pensei tê-la perdido.

Deve ter sido minha consciência

preocupada com o destino da poesia.

Finalmente consegui entrar em casa

sem atrapalhar o sono reparador

dos que fazem do seu dia a dia

uma intensa maratona trabalhista.

Todos dormem…

Não escreverei nenhum poema

para não interferir no silêncio que conforta a noite.

Conseguirei ficar a sós com minha imaginação

e preparar um banquete literário,

sem perder o descanso noturno.

(ESTRELA BRILHANTE)

Estrela Brilhante
Enviado por Estrela Brilhante em 30/04/2011
Reeditado em 25/05/2011
Código do texto: T2940531
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