CHAVE DE UM POEMA
Perdi a chave da porta,
não sei onde a deixei.
Deve ter ficado em algum arado
quando eu revirava temporais
numa arqueologia de bonanças
ou com alguma criança que me pediu pipoca.
Em casa todos dormem o sono dos justos
e por justiça não farei barulho
com o entulho dissonante da campainha
ou arrombando a caixa preta
da minha ficção quase científica.
Todos dormem…
Fico ao relento sem a chave da porta.
Estou livre;
posso escrever o poema…
(MAURICIO C. BATISTA) (IN MEMORIUM)
Achei a chave da porta,
pensei tê-la perdido.
Deve ter sido minha consciência
preocupada com o destino da poesia.
Finalmente consegui entrar em casa
sem atrapalhar o sono reparador
dos que fazem do seu dia a dia
uma intensa maratona trabalhista.
Todos dormem…
Não escreverei nenhum poema
para não interferir no silêncio que conforta a noite.
Conseguirei ficar a sós com minha imaginação
e preparar um banquete literário,
sem perder o descanso noturno.
(ESTRELA BRILHANTE)