ECO LXXIII


Sou tela a óleo, carcomida, pelas mãos do tempo e de tinta,
As mesmas paisagens, as mesmas pastagens
Em que nem mesmo muda a mão de quem pinta,
De quem borra, quem apaga, as mesmas viagens.

No cavalete, da história, manco e todo respingado,
Do mesmo sangue, do mesmo suor que goteja,
Eu, ora gravura, sigo estático, dependurado,
Do mesmo ar, no mesmo mar, na caravela que me veleja.

Em mim há carvão rabiscando rochedos,
Giz de cera emprestando cor a meus medos,
E segredos por sobre guache...

Sem molduras que delimitem espaço,
Nem há mistérios, traço após traço,
Há quem me procure, há quem me ache.


Gustavo Schramm



Eco LXXIII

E será que te encontra quem te aponta?
Nas molduras onde moras, nos traços...
Será, que te das mesmo conta de ti?
Das cores dos medos, da guache aos pedaços?

Serás tu a tela ou a mão que revela
No óleo, na letra, no bisturi ou na arte que salta,
As mesmas paisagens, vontades comuns
Pintando o relevo de um colo que falta?

Arranha rochedos e nem se dá conta
Que o matiz dos desejos desconta, prescreve
E desmancha segredos profundos

Se o mar se repete e a caravela é a mesma
Monta o cavalete, assume a tua nau ou a caneta
Que se o suor é o mesmo, também o é o sangue que goteja.



Sônia Prazeres