À Beira do Tejo...

Hoje rasgo meu peito... não temo mais recordar...
Reflito nas imagens que retenho nas pupilas...
E te vejo, meu bem, a passear por entre aqueles campos
verdejantes que margeiam o Tejo...
O terno Tejo que com suas águas, um dia
também lavou nossa nudez...
Nosso descompromisso com a sociedade...
Nossa loucura...
Nossa paixão...
Amamos com intensa sofreguidão,
e ambos, com completa falta de juízo...
Talvez, meu bem, tudo entre nós dava certo,
porque não tínhamos que prestar contas à razão...

Hoje quando passo pelo meu doce Tejo,
relembro com saudades aquele tempo,
que sem juizo, amamos loucamente...
Ainda te vejo mergulhando nua naquelas
águas que hoje se completa, e em muito,
com as lágrimas que sentado em sua orla,
derramo...
Ah! meu bem... o que eu não daria
para, novamente, perder a razão...

João de Assis
Cruzeiro
24/09/2004

***
Da beira Tejo...

E nas águas cristalinas
brilhavam ao longe as velas!
passavam lentas
e eu corria,
como se fugir quisera
mas o teu beijo esperava
em recompensa!
Ofegante,
agarravas-me a cintura
e docemente
roçavas a meiga barba
na minha nuca
provocavas
arrepios, desejos, delírios
para que fossem
ainda mais intensos
os nossos beijos
e eu a rir esquiva-me
dos teus braços
e corria pela escarpa
depois parava
colhendo ervas
fingindo
que me escondia,
me perdera...
e o idílio
recomeçava!

Agora passeio no cais
que não é mais
de tábuas soltas;
as águas foscas
são turmalinas desertas
donde o olhar alcança
a barra por onde foste
num dia triste

trago no peito
o lenço branco
com que acenei

adeus, adeus, meu bem!
as lágrimas às águas
do Tejo juntei
para que fossem contigo
aonde eu nunca irei!

Maria Petronilho
Lisboa
14/7/2005