CIRCUNAVEGAÇÃO / PARABÉNS
CIRCUNAVEGAÇÃO
Partindo de um vazio qualquer;
rotineiramente cruzando mares,
relembrando azares,
dissecando incertezas por
toda a Baía de Carnapijó,
segue um corpo surrado pela teimosia.
Simultaneamente, vou atravessando
na paralela desse tédio lírico
todas as certezas oriundas
do incansável vício, que transparece
na minha luta intensiva
por deixar viver o corpo.
Vinde a mim todo um Mediterrâneo festivo
em meio a uma primavera solar...
não com aquele sol que te arrebata
dos meus braços quando a vontade
é vem mais aqui ficar.
Prefiro o sol que emana dos teus olhos
e hoje declina num horizonte ainda enigmático.
Submersa nesse devaneio estático,
aporto na única orla perceptível
do meu mundo:
- o sorriso da minha criança
que é lindo de morrer,
majestoso até quando toma leite
e fica de bigode branco...
(esse poema me foi dedicado pela poetiza Martilza Carrera em setembro de 1981. Dias depois, no dia do seu aniversário, 24 de setembro, retribui a homenagem com o poema a seguir transcrito)
PARABÉNS
Espero
(aliás estou esperando)
pois quem circunavega retorna sempre,
mesmo que surrado, teimoso,
ao mesmo ponto da partida,
inda que a criança venha
sem o majestoso bigode branco
do pós leite,
deleite pleno
desses teus olhos e alma de poetisa...
Espero...
e se quando passares não deres por mim
partirei também.
Sim, parto atrás
e em plena primavera solar
entre as paralelas do teu tédio lírico
vou Mediterrâneos
porta-porta,
porto-porto,
sol a sol.
Vou na trilha dos teus versos,
ao aroma dos teus poemas agrestes,
dos teus poemas negados
e após medir teu reino
hei de te encontrar,
'inda que no meio do Carnapijó,
meio a chuva,
'inda que estática ou submersa
em um telúrico dilúvio poético,
para dizer-te,
sem rotinas-azares-incertezas:
- parabéns...
(Carnapijó é o nome de uma baía perto de Belém)